A hipertensão, mais conhecida como pressão alta, é uma doença crônica que se caracteriza pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. A incidência aumenta conforme a idade, sendo que um terço das pessoas entre 30 e 50 anos e dois terços acima dos 65 têm a condição.
Um dos alertas neste Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial, celebrado nesta sexta-feira, 26, é que crianças e adolescentes também podem ter pressão arterial alta, mas os cuidados desde a infância são essenciais na prevenção.
O cardiologista Jairo Lins Borges, professor do departamento de cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que entre 2% e 4% das crianças no Brasil apresentam hipertensão arterial. Embora causas renais, hereditárias ou congênitas estejam relacionadas ao problema, o diagnóstico na infância e na adolescência tem sido cada vez mais similar ao dos adultos.
“Está relacionada a um estilo de vida que não é saudável devido ao uso abusivo de sal, calorias, gorduras e açúcar de absorção rápida, o que leva ao aumento do peso, do colesterol, dos níveis de açúcar no sangue e predispõe à diabete e à elevação da pressão arterial”, diz o médico.
No caso de fatores congênitos, a criança teria de nascer com alguma alteração que tende à doença. Borges cita a coartação da aorta, que se dá pelo estreitamento da aorta e consequente aumento da pressão sanguínea. “É pouco comum e o diagnóstico é razoavelmente fácil porque a pressão sobe muito rápido.”
Um estilo de vida mais sedentário, com redução ou nenhuma atividade física, e obesidade infantil são fortes fatores de risco para hipertensão em crianças e adolescentes. Com o passar do tempo, a doença é um dos principais motivos para a ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC), enfarte, aneurisma arterial e insuficiência renal e cardíaca.
Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência de hipertensão no País passou de 22,6% em 2006 para 24,3% em 2017. No mesmo período, o número de mortes pela doença aumentou de 36.710 para 49.640, sendo as mulheres as mais afetadas.
Sintomas
De modo geral, a hipertensão não apresenta sintomas específicos. Os sinais costumam aparecer quando a pressão sobe muito e pode ocorrer dor de cabeça, mal-estar, tontura, visão embaçada e sangramento nasal. Medir a pressão periodicamente é o jeito mais simples e exato de fazer o diagnóstico.
O cardiologista explica que, em fases mais jovens, observa-se primeiro o aumento da pressão mínima (diastólica). “Isso caracteriza alterações de muitos microvasos do corpo.” Esses casos, segundo ele, são mais fáceis de tratar. A partir dos 50 anos, começa a elevar a pressão arterial máxima (sistólica), em que há um comprometimento maior das artérias, que ficam enrijecidas e dificultam a passagem de sangue.
“Se a pessoa começa a ficar hipertensa quando criança ou adulto jovem, mais complicações terá e há uma redução na expectativa de vida. As complicações cardiovasculares são mais propensas nessas pessoas do que naquelas que desenvolveram a hipertensão mais tarde”, diz Borges.
O cardiologista da Unifesp explica que existem diferenças entre os documentos que orientam sobre o diagnóstico da hipertensão. No Brasil e na Europa, uma pessoa é considerada hipertensa quando seus níveis de pressão arterial alcançam ou ultrapassam 140/90 mmHg (milímetros de mercúrio), popularmente conhecido como 14/9.
No entanto, quando a pressão sistólica está entre 120 e 139 ou a diastólica entre 80 e 89, já é uma condição definida de pré-hipertensão. Nesse cenário, o risco de se tornar hipertenso mais rápido é maior e as chances de enfarte ou derrame aumentam. De modo geral, a pressão arterial ideal para o adulto seria em níveis abaixo de 12/8.
Na infância, a medida leva em consideração índices que são mais frequentes em crianças normais com determinado nível de altura para a idade. “O pediatra está preparado para fazer essa avaliação de modo simples e preciso. Além disso, a medida de pressão arterial deve ser obtida com aparelhos de pressão com braçadeira apropriada para o calibre do braço da criança”, destaca Borges.
De modo prático, pode-se dizer que uma pressão a partir de 103/63 mmHg em meninos com idade de cinco anos de idade, de 109/72 mmHg em meninas com dez anos e igual ou maior que 120/80 mmHg dos 13 em diante, em ambos os sexos, já levam a uma forte suspeita de hipertensão.
Tratamento e prevenção
O estilo de vida, geralmente, determina se a pessoa tem tendência a desenvolver hipertensão ou não. A prática regular de atividade física, como caminhada e natação, o abandono do tabagismo e um sono de qualidade, por mais de sete horas, são aliados no tratamento e na prevenção da pressão alta. No caso da população adulta e idosa, o uso regular e continuado de medicamentos para baixar a pressão arterial também é uma medida importante para controlar a doença.
Os hábitos alimentares também têm parte fundamental nesse processo. Patrícia Cavalcante, nutróloga do Espaço Volpi, diz que há alimentos que aumentam a pressão arterial e outros que ajudam a mantê-la ou reduzi-la.
Uma dieta que costuma ser rica em potássio, magnésio, fibras e com quantidade menor de sódio tem potencial para controlar a pressão de muitas pessoas sem necessidade de medicamento”, afirma a especialista. Ela diz que a dieta DASH, sigla em inglês para Abordagens Dietéticas para Parar Hipertensão, está bem estabelecida para controle da pressão arterial.
“(A dieta) enfatiza o consumo de fontes de proteína com baixo teor de gordura, aumento de grãos integrais, frutas e vegetais ao longo do dia”, explica. A nutróloga orienta que, ao montar o prato da refeição, 50% dele tem de ser composto por vegetais, que fornecem poucas calorias, têm fibras e pouco sódio.
Sal e pressão alta
Quando se fala em reduzir o consumo de sal, Patrícia afirma que cada organismo reage de um jeito diferente. “Algumas pessoas conseguem secretar tudo pela urina. Tem de avaliar de forma individual”, explica.
Mas o sódio não é o único vilão da história. A especialista menciona também os carboidratos refinados, como farinha e arroz brancos, macarrão e massas não integrais. Esses alimentos elevam a glicose no sangue, e consequentemente a insulina, e reduzem os vasodilatadores, além de aumentar a retenção de sódio no organismo.
Alimentos que aumentam a pressão arterial
Alimentos industrializados, que geralmente têm alto teor de sódio e gorduras, devem ser evitados. Colocar pouco sal na comida também é uma recomendação básica para prevenir hipertensão. O consumo de álcool de forma crônica e de cafeína também podem elevar a pressão arterial. Neste último caso, o prejuízo é relativo, mas sabe-se que o café, por exemplo, aumenta a pressão temporariamente.
Alimentos que previnem a pressão alta
Os alimentos naturais e integrais são os mais indicados para prevenir a pressão alta. Frutas vermelhas (morango, cereja, framboesa) e chocolate com 60% de cacau ou mais são recomendáveis porque possuem flavonoides que dilatam os vasos sanguíneos.
Vegetais e folhas verdes, como rúcula, couve e espinafre também são fortes aliados. A beterraba, seja em suco ou na salada, é boa porque libera vasodilatadores. O consumo de potássio, que ajuda na eliminação do sódio, favorece a pressão arterial e pode ser encontrado na banana, damasco e abacate. Aveia e iogurtes naturais também podem ser inseridos na dieta.