Reinaldo Pitta e Alexandre Martins, conhecidos empresários de jogadores de futebol e ex-representantes do atacante Ronaldo, do Real Madrid, foram presos na manhã de ontem pela Polícia Federal, no Rio.
Eles são acusados de remeter ilegalmente para o Brasil dinheiro de transações financeiras envolvendo a negociação de jogadores no exterior por meio de contas e empresas abertas na Suíça. Somente de uma delas a PF identificou o envio ilegal de US$ 24 milhões para o Brasil com a ajuda de doleiros. A PF investiga agora a possibilidade de alguns dos mais de cem atletas que já foram agenciados por eles terem utilizado o mesmo esquema para trazer para o País, sem o pagamento de impostos, dinheiro que ganharam no exterior.
Pitta e Martins já haviam sido presos em 2003, quando foram condenados a 11 anos de prisão por envolvimento no caso que ficou conhecido como Propinoduto. Recorriam da sentença em liberdade. O escândalo revelou um esquema de remessa ilegal para o exterior de US$ 33 milhões de fiscais do Estado do Rio. Os empresários atuavam no esquema como ?laranjas?. Com os bens bloqueados, eles criaram, a partir de 2003, pelo menos dez empresas de fachada em nome dos filhos de Pitta, Renata e Rodrigo Pitta, que também foram presos ontem. Foi uma saída para a dupla voltar a operar e trazer para o Brasil, sem passar pelo Fisco, o dinheiro que recebiam com comissões dos clubes estrangeiros que compraram jogadores brasileiros com a intermediação deles.
A PF tem indícios de que Pitta e Martins também ajudavam atletas e treinadores a fazer o mesmo, burlando a Receita Federal. ?Aparentemente são jogadores que já foram agenciados por eles para ir para o exterior, que já têm um certo grau de confiança e se socorrem deles para trazer o dinheiro para o Brasil?, disse o delegado federal Bruno Ribeiro Castro, da Delegacia de Combate a Crimes Financeiros (Delefin), que não quis citar nomes de jogadores que aparecem na investigação e escutas telefônicas, alegando que ainda faltam provas.
Os policiais da Delefin chegaram às empresas fraudulentas da dupla investigando operações financeiras suspeitas monitoradas desde o Propinoduto e se surpreenderam com a reincidência da dupla de empresários da bola. A pedido da PF, a 3.ª Vara Federal Criminal do Rio expediu cinco mandados de prisão preventiva. O quinto preso é Aloisio Faria de Freitas, ex-gerente da Gortin Promoções, a principal empresa dos sócios. Segundo a PF, Freitas operava as transações ilegais, mas desentendeu-se recentemente com os empresários.
Pitta e Martins têm pelo menos duas empresas na Suíça, cujas contas eram usadas por eles para receber comissões das vendas de jogadores dos clubes estrangeiros. Com a ajuda de doleiros, eles faziam operações com o que é conhecido como dólar a cabo. Transferiam o dinheiro que queriam trazer para o Brasil para contas de doleiros no exterior, que também possuem offshores, como são chamadas as empresas em paraísos fiscais. No Brasil, esses doleiros depositavam nas contas das empresas fraudulentas abertas no nome dos filhos de Pitta o equivalente em reais, descontando suas comissões pelo serviço. ?O problema não é cobrar comissão dos clubes, mas ter este dinheiro no exterior sem declarar à Receita Federal, que é crime. Quando trazem para o Brasil, há o crime de lavagem?, explicou o delegado Castro. Se for comprovado que jogadores e treinadores utilizaram o esquema, eles serão indiciados pelos mesmos crimes que pesam contra os empresários: sonegação, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, com penas previstas entre 10 e 15 anos de prisão.