Araraquara, SP (AE) – Cresce dentro dos presídios de São Paulo um movimento de resistência às ordens dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para iniciar rebeliões como a que destruiu totalmente 19 penitenciárias no estado, em maio. Os presos não ligados à facção já falam abertamente em não participar de novas ondas de motins como a que está sendo preparada caso se confirme a transferência das lideranças para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná. Sem a adesão dos presos, os parentes também não se exporiam, fora dos presídios, em ataques ordenados pela facção, como os que ocorreram nos últimos dias.

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Acesso à carta de um detento da penitenciária de Araraquara expõe de forma clara essa situação. "Ta geral aqui que nós não vamos levantar", diz um trecho, numa referência velada a possível ordem de novas rebeliões. Na carta que escreveu para a mulher, o detento fala do descontentamento da maioria com a situação. "Não estou feliz e ninguém está feliz." Ela conta que o marido não é da facção, mas teve de participar do quebra-quebra para não morrer. "A maioria não é do PCC, mas tem que ir na onda, senão morre." Os que foram obrigados a se rebelar também arcam com as conseqüências da destruição. "Eles estão dormindo no chão, porque teve a ordem de queimar os colchões, e muitos ficaram doentes. Enquanto isso, os cabeças (líderes) estão na deles."

O presídio de Araraquara foi destruído em duas rebeliões, entre os meses de maio e junho, depois que os líderes do PCC foram transferidos para a penitenciária de segurança máxima, em Presidente Venceslau. A transferência incluiu presos como Robson Lima Ferreira, o Marcolinha, sobrinho e braço direito do líder Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, Edílson Borges Nogueira, o Biroska, e Fabiano Alves de Souza, o Gugu. Com a saída dos "cabeças", outros líderes assumiram suas funções, mas não têm tanta ascendência, nem habilidade para "lidar" com a massa. "Muitos presos estão na bronca", conta a mulher.

O descontentamento se agravou com a suspensão das visitas em decorrência da rebelião. A administração do presídio alega falta de segurança. "Não vejo meu irmão faz mais de um mês e ele nem é do partido", disse a doméstica Elaine S. Ela tentou entregar um pacote com roupas e material de higiene ao preso, ontem, mas não conseguiu. A entrada de "jumbos" está restrita às quartas-feiras A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) anunciou a transferência gradativa dos presos condenados de Araraquara para outras unidades. Serão removidos cerca de 100 detentos por semana. Há expectativa de que seja permitida a entrada de colchões esta semana.

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Cerca de 2 mil colchões foram queimados na rebelião. Na penitenciária de Itirapina, região de Ribeirão Preto, os presos descontentes com o PCC chegaram a formar uma dissidência. Os grupos têm se enfrentado no interior do presídio onde cerca de 1.350 detentos estão soltos num pavilhão. Eles reclamam de terem sido "abandonados" pela facção.