O motorista Carlos Alberto Santos Gonçalves, 57, foi preso ontem acusado de sequestrar uma menina de 11 anos e mantê-la em cárcere privado por 16 anos. A acusação foi feita pela própria vítima, que não quis ter o seu nome revelado. Ela disse ter procurado a polícia pela primeira vez em setembro do ano passado, quando deixou a casa. O mandado de prisão foi expedido na segunda-feira.
De acordo com a Polícia Civil, Gonçalves vai responder pelos crimes de sequestro, cárcere privado, violência doméstica e falsidade ideológica. Ele foi ontem em Itaboraí (45 km do Rio)
Segundo a vítima, Gonçalves vivia com sua mãe em Porto Alegre. Em 95, de acordo com o relato da mulher, o padrasto foi buscá-la na escola alegando que a levaria para a casa da avó. Em vez disso, ele a trouxe para o Rio de carona em caminhões.
Hoje com 28 anos, a vítima conta que teve três filhos com Gonçalves: o primeiro menino aos 13, uma menina aos 17 e outro menino aos 21.
De acordo com a mulher, o padrasto a estuprou na primeira noite da viagem para o Rio, ainda em Santa Catarina. Depois, quando foram moram em Niterói, cidade próxima, e os abusos passaram a ser frequentes.
“Ele passou a trabalhar como caseiro em um sítio e o portão estava sempre trancado. Eu só podia sair de casa com ele. Logo em seguida fui atropelada e fiquei dois anos sem poder andar. Nesse tempo nasceu meu primeiro filho”, conta a jovem.
A vítima alega que não tentou fugir, nem procurar a polícia, porque pensava que ele não seria preso e poderia agredi-la ainda mais se soubesse que ela tentara escapar. Além disso, segundo ela, Gonçalves ameaçava sequestrar seus filhos.
“Ele sempre me batia, me chutava, me queimava com o charuto e me xingava. Me humilhava muito”, disse a jovem.
Segundo a vítima, em 2009, quando Gonçalves passou a trabalhar como motorista de perua já não podia vigiá-la durante todo o dia e ela começou a poder sair de casa sozinha.
“Ele achava que nada podia acontecer com ele por ter registrado nossos filhos no nome dele”, afirma.
De acordo com a jovem, apenas quando começou a sair de casa sem o padrasto é que percebeu que sua vida não era normal.
“Passei a levar minha filha às aulas de Kung Fu e o professor também dava palestras sobre como deve ser a relação entre marido e mulher e como é uma relação familiar. Só então me dei conta de que minha vida não estava certa e que não era assim em todas as famílias e decidi procurar a polícia”, conta ela.
A jovem afirma que em setembro do ano passado conseguiu sair de casa e nunca mais voltou: “Ele não me agrediu dessa vez, mas tentou me fazer voltar, disse que ia mais me agredir, que ia mudar, mas eu não acreditei”. Hoje, ela afirma que trabalha como vendedora e nunca mais viu o ex-agressor.
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