Presidente diz que levaria José Dirceu ao seu palanque

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, enfaticamente, na entrevista de uma hora e meia às emissoras de rádio, o PT e o ex-deputado José Dirceu (PT-SP). Depois de reiterar que "não disse para ninguém" se será candidato à reeleição, Lula avisou que "levaria José Dirceu para o seu palanque eleitoral, até porque não foi provado nada contra ele", "nem por omissão", assim como não foi comprovada a existência do "mensalão".

"Sou contra a pena de morte, na política e na vida normal", declarou, ao reconhecer que "o PT está numa encalacrada" e que "praticou um erro abominável", referindo-se ao "crime eleitoral de caixa dois, já provado pela CPI (comissão parlamentar de inquérito)". Mas insistiu que "não sabia" de nada do que acontecia e que também não tinha conhecimento de quem conhecia – uma vez que o partido não precisava lhe comunicar o que fazia. Ele assegurou que estas questões não o impedirão de defender a legenda e que não ficou "inibido de ser petista". Lula prosseguiu: "Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso." Esses episódios provam, afirmou, que a sigla "não é infalível".

O presidente foi em frente na análise da agremiação: "Cometemos erros e, quando cometemos erros, nós temos de pagar e pagar forte porque a sociedade brasileira precisa nos cobrar, sistematicamente, de forma implacável, para que a gente seja uma referência ética neste País. Eu quero estar junto de todos aqueles que estiverem dispostos a fazer isso." Na entrevista, Lula disse que não era possível, em 35 meses, consertar 35 anos, mas assegurou que o governo faz "a mais forte política social da história do Brasil". O presidente afirmou que "o Bolsa Família é quase um milagre" para as populações mais carentes.

Na opinião de Lula, as eleições foram ganhas "para que os mais pobres pudessem chegar a um padrão de vida minimamente respeitoso". "Estamos longe de chegar, mas já avançamos muito", avaliou. O presidente afirmou que não prometeu que criaria 10 milhões de empregos, mas que daria condições para que isso acontecesse. Ao insistir que "não tem pressa em definir" se será candidato "de cá" – e nem sabe se o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), "será candidato de lá" -, Lula ironizou: "Tem outros candidatos, e eu estou vendo gente aí, de candidato, para tudo quanto é lado e já tem mais candidato do que eleitor." O presidente voltou a dizer que é contra a tese da reeleição.

Ao se referir ao caixa dois, Lula disse que "há uma história neste país e o PT não poderia ter entrado nela porque o PT nasceu para combater isso." "Quem fez isso praticou um erro abominável contra a história do PT, que, agora, vai amargar muitos anos para recuperar a sua história política, a sua credibilidade." O presidente avisou que estará do lado do partido, tentando contribuir para que isso aconteça. Lula disse que se sentia "traído porque o PT nasceu para combater essa prática política". "O PT não precisava dessa prática política porque não é o dinheiro que faz uma pessoa ganhar as eleições." A prática de caixa dois, acrescentou, só mudará quando houver alterações na legislação eleitoral, quando as legendas forem fortes, quando houver fidelidade partidária.

Para se justificar por não saber das denúncias de mesadas ou do dinheiro não-contabilizado na sigla, o presidente declarou que muitos pais de família não sabem o que se passa dentro de sua casa. Lula ressalvou que não fugia da responsabilidade, embora insistisse que não prejulgará ninguém. O presidente afirmou acreditar que "é preciso ter cuidado" e "contar até 10" para que não se façam acusações levianas".

Ao lembrar que foi da oposição, por muito tempo, Lula prosseguiu afirmando que "não se queixa" e "não fica chorando" dos ataques que a oposição faz agora contra a administração federal. "É o papel dela", disse, acentuando que "nós remamos para a frente e eles remam para trás". Para Lula, "isto é um jogo e o PT não tem do que se queixar" porque "tem de aprender a apanhar", uma vez que bateu a vida inteira. Lula pediu "responsabilidade" ao Congresso para aprovar o Orçamento até dia 31 e lembrou que "não tem do que se queixar" dos parlamentares. Disse também que não sabe se convocará, extraordinariamente, o Congresso, mas se queixou da obstrução em votações. Para Lula, "a oposição de esquerda era mais light do que de direita feita a mim". Ele acrescentou: "Em determinados momentos, o setor de direita parece muito mais raivoso do que a esquerda já foi em qualquer momento histórico do Brasil. Mas isso faz parte da cultura política do Brasil."

10 milhões: empregos ?necessários?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou na entrevista às rádios que não prometeu a geração de 10 milhões de empregos na campanha presidencial de 2002, mas que afirmou, em seu programa de governo, que esse volume de empregos seria o ?necessário? para o País. Destacou que, para atingir esse patamar, o próprio programa de governo apontava para uma necessidade de expansão dos investimentos e a obtenção de um crescimento médio anual da ordem de 5%, durante os quatro anos de mandato.

Lula reconheceu que seu governo ainda não atende aos parâmetros por ele cobiçados na geração de empregos, ao afirmar a quantidade de postos criados até o momento, de 3,3 milhões. Ressalvou, entretanto, que seu mandato ainda não terminou e que ?as condições estão dadas? para o País ingressar num ?círculo virtuoso de crescimento econômico?, o que resultará, segundo ele, na aceleração da oferta de empregos. ?Durante 1994 a 2002, a média de geração de empregos era de 8 mil mensais e, nos 35 meses do nosso governo, está em 108 mil empregos mensais, 12 vezes mais do que o governo anterior?.

Lula disse também que um possível ajuste na economia do País será feito aos poucos e que não se pode tomar atitudes precipitadas. Indagado sobre a breve afirmação feita na segunda-feira à imprensa, de que seu governo faria reparos na economia, o presidente se limitou apenas a dizer que ?o ajuste (da economia) vai se dando?.

O presidente informou que o governo não adotará nenhuma medida para forçar uma eventual desvalorização do real frente ao dólar. Ele ressaltou a importância da autonomia atual do Banco Central na política monetária do País e reforçou a necessidade desta independência ser mantida.

O presidente declarou que seu governo não tem dois comandos e não está dividido. Lula negou que exista uma eventual cisão quanto à questão da política econômica e destacou que há diálogo democrático entre os membros do governo.

O presidente reconheceu que a imprensa divulgou frases que os próprios membros do governo falaram ?equivocadamente?, que é preciso medir as palavras, pensar no que se fala e saber o ?tamanho do passo?. Destacou ainda que ?nenhum ministro pode pensar uma coisa e sair falando antes daquilo se transformar em política de governo?.

Lula afirmou ainda que não mudará a condução da política econômica por causa das eleições do próximo ano. ?Não vamos fazer loucura?. Ele reconheceu a necessidade de redução dos juros para o País fortalecer seu ciclo de crescimento, mas insistiu que as decisões serão tomadas dentro do governo, balizando-se exclusivamente em aspectos técnicos.

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