Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil |
Lula faz discurso em Assunção. |
Brasília – Em visita ontem ao Paraguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo brasileiro não pretende revisar o Tratado de Itaipu. A afirmação foi feita em discurso no palácio do governo paraguaio, depois de o presidente Nicanor Duarte dizer que o acordo deveria ser revisto.
O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, disse que é preciso rever os termos do Tratado de Itaipu, que deu origem à hidrelétrica e estabelece as regras em relação à comercialização da energia produzida por Itaipu.
Duarte destacou que ?Itaipu é a carta de apresentação da nossa relação bilateral, é uma fator de desenvolvimento que faz com que olhos vigilantes estejam sobre ela?. De acordo com ele, os termos do tratado foram firmados por outro líderes, e ?mais cedo ou mais tarde será preciso buscar acordos políticos e econômicos para começar a revisar o tratado, buscando mais justiça e igualdade para os nosso povos?.
O presidente paraguaio criticou a burocracia brasileira, que impede que acordos, como o que prevê a construção da segunda ponte sobre o Rio Paraná, sejam concluídos. Nicanor Duarte disse esperar que até o final do ano as obras possam ser iniciadas. ?Prometemos muita coisa, mas se não exercermos controle, elas (obras) se perdem no labirinto da burocracia.?
O presidente brasileiro respondeu que ?já tinha tido a oportunidade, em uma entrevista a dois periódicos do Paraguai, de dizer que não estava na cogitação do governo brasileiro a discussão sobre o tratado?. Segundo ele, o assunto foi conversado com Nicanor Duarte e com ministros de ambos os países. ?Não existe tema proibido dentro do marco do tratado?, acrescentou o presidente brasileiro.
Ele ressaltou que os dois governos podem tratar de outras questões relacionadas a Itaipu. ?Penso que precisamos fazer uma coisa de cada vez, porque o que me interessa mais é contribuir para que a economia do Paraguai possa crescer. E, crescendo a economia do Paraguai, possamos utilizar toda a energia de Itaipu.?
Na avaliação de Lula, a relação entre os dois países avançou bastante, principalmente porque Paraguai e Brasil começaram a olhar na mesma direção. Disse, ainda, que ambos poderão dar novos passos se souberem lidar com a burocracia.
?O problema da burocracia não é apenas da burocracia brasileira ou paraguaia. A burocracia é burocracia em qualquer parte do mundo. Nós, latinos, reclamamos muito. Quando não temos a quem culpar, culpamos a burocracia?, encerrou o presidente brasileiro.
Países constroem uma nova agenda
Brasília – Apesar da falta de entendimento a respeito da revisão do Tratado de Itaipu, os dois presidentes tiveram um encontro proveitoso, com a assinatura de 18 acordos de cooperação bilateral. O presidente Nicanor Duarte revelou que o presidente Lula deu ordens à Receita Federal para que em 30 dias seja implementada a cobrança de uma taxa simples, de 18%, sobre mercadorias compradas pelos sacoleiros, e que se estabeleça um limite de até R$ 300 mil na compra de mercadorias por ano.
De acordo com o presidente paraguaio, os dois países ?estão superando antigos problemas e estão construindo uma nova agenda, uma visão compatível que irá conduzir os dois países a um mesmo destino?. O presidente paraguaio classificou a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu país como histórica, porque, segundo ele, ?nunca antes o governo brasileiro havia se empenhado tanto nas relações econômicas e comerciais com o Paraguai?.
Os dois presidentes também inauguraram as duas turbinas da Hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. As duas unidades já estão operando comercialmente há algum tempo. As turbinas custaram US$ 184,6 milhões.
A unidade 9A está em funcionamento desde o dia 4 de setembro do ano passado, enquanto a 18A opera desde 7 de março deste ano. Com a instalação das 20 turbinas previstas no Tratado de Itaipu, a capacidade de produção passa a 95 milhões de megawatts-hora por ano, em média, desde que haja condições favoráveis no Rio Paraná.
Para se adequar à nova potência instalada de Itaipu, Furnas ampliou a capacidade de suas estações de transmissão de energia. Responsável por 20% da energia consumida no Brasil e 95% do que se consome no Paraguai, Itaipu passa, agora, 33 anos depois do início de sua construção, para um processo mais concentrado de modernização dos equipamentos.