O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Jayme Chemello, defendeu hoje as invasões de terras promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como estratégia de “protesto”. Ele ressaltou, porém, que essa prática não pode ser usada como “método constante” por causa do risco de causar instabilidade no País.
“A Igreja (Católica) não gosta das invasões feitas como método constante. Mas uma ocupação de terra, uma vez ou outra, quando não há jeito de entrar e ninguém quer ajudar é como se fosse um grito um clamor”, disse, ao relatar os resultados da 50.ª Reunião do Conselho Permanente da CNBB.
Para ele, a ocupação de fazendas, estradas, ou uma greve são formas válidas de reação dos trabalhadores. “É como um clamor: olha, nós estamos mal, nós queremos terra para plantar. E isso é ótimo. Mas se houver abuso, se forem feitas coisas que não devem, aí nós não estaremos de acordo.”
D. Jayme avaliou que a luta pela reforma agrária, bandeira do MST, é legítima e precisa ser encampada pelo novo governo. Aproveitou para criticar a política agrária do atual governo. Para ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso só fez “assentamentos” e não se preocupou em realizar a reforma agrária. “Nunca se fez reforma agrária no País”, disse, definindo que reforma agrária ocorre quando há redistribuição de terra dentro do princípio democrático, com atenção especial aos agricultores.
Apesar das críticas, o presidente da CNBB disse que o governo atual contou também com coisas boas. “Todo mundo sabe que Fernando Henrique é um sujeito preparado. Mas cada um tem um jeito de governar o País.” Para ele, faltou ao presidente dar prioridade a investimentos para garantir mais empregos, salários mais altos aos trabalhadores e alimentação para todos. Nesse contexto, elogiou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva por ter destacado o programa Fome Zero. “Ele se voltou para o povo mais simples e isso é uma novidade.”
A CNBB também pede que Lula defenda a participação do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) de forma soberana. “Querem entrar no nosso quintal com exigências, mas lançam barreiras protecionistas. Isso não é certo, não é justo”, argumentou o vice-presidente da entidade, d. Marcelo Carvalheira.