Presidenciáveis fazem debate de idéias, críticas e bom humor

O debate que marcou o fim da campanha eleitoral da televisão, realizado na noite de ontem pela Rede Globo, ficou marcado pela discussão de propostas, críticas a atuação política dos candidatos e uma boa dose de bom humor, praticamente sem ataques pessoais e agressões.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Anthony Garotinho (PSB), Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) debateram durante mais de duas horas alguns dos principais problemas do Brasil. As críticas mais duras foram dirigidas ao governo Fernando Henrique Cardoso e por conseqüência a Serra, candidato do partido de FHC e que participou ativamente da administração federal nos últimos oito anos.

Os candidatos protagonizaram várias disputas e até momentos engraçados. A exemplo do que fez no primeiro debate, Garotinho explorou supostas divergências entre as promessas de Serra e as ações do governo federal em relação à extinta Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

“O governo exingüiu e o senhor promete reativar. Quem está certo, o senhor ou o presidente Fernando Henrique Cardoso? “, provocou Garotinho. Serra explicou que achava que precisa reestruturar a Sudene, mas não fechá-la e, diante da insistência de seu adversário, reagiu.

“O senhor está na emissora certa, mas no programa errado, aqui não é o Casseta e Planeta”, afirmou Serra, referindo-se ao programa humorístico exibido pela própria TV Globo. A resposta do tucano valeu um direito de resposta a Garotinho, que cobrou “responsabilidade” dos candidatos à Presidência da República.

O tom mais crítico entre Lula e Serra ocorreu quando o tucano questionou o petista sobre sua proposta de habitação. “Pensei que você conhecesse minha proposta, que foi muito elogiada pelo Mário Covas (ex-governador de São Paulo) e pelo Tasso (o ex-Jereissati), quando a lançamos no Congresso”, ironizou o petista. “As vezes a delicadeza é respondida com ironia”, respondeu o tucano.

Perguntado pelo mediador do debate, o jornalista Willian Bonner, qual o tratamento que ambos dariam aos mutuários inadimplentes, caso fossem eleitos, Serra, a exemplo de outras respostas dadas durante o debate, teve dificuldade de concluir seu raciocínio dentro do tempo estabelecido. O tucano prometeu retomar os imóveis dos inadimplentes, depois de respeitado períodos de carência e dando ao mutuário o direito de justificar os atrasos.

Lula defendeu que o Estado deve garantir moradia gratuita às pessoas que não têm recursos para pagar até mesmo pequenas prestações de cerca de R$ 30,00. Já em relação às pessoas que temporariamente ficaram sem pagar as prestações por desemprego ou doença, o petista propôs a renegociação da dívida.

O candidato do PT afirmou que habitação é “qualidade de vida, está na Constituição”. E brincou: “Não podemos fazer aqueles conjuntos habitacionais todos iguais, que se a pessoa tomar um aperitivo pode até entrar na casa do vizinho; parece caminhão de melancia”.

No melhor estilo morde-assopra, elogiou o programa de prevenção e combate à aids, um dos carros-chefe da campanha de José Serra, do PSDB. Mas o fez para em seguida lembrar que ele nasceu no governo de José Sarney e que apesar da aids ter recebido um bom cuidado, a dengue, e a malária atingem índices altíssimos.

Em resposta ao mediador William Bonner sobre o papel do terceiro setor no governo, Lula afirmou grande disposição em contruir uma política pública nacional constituída por ONGs. O candidato do PPS chamou atenção para o fato de utilizar em seu programa de governo projetos do terceiro setor, “essa energia maravilhosa” que um “governo moderno” deve saber aproveitar.

Garotinho acusou Serra de ter assinado – junto com presidente Fernando Henrique Carodoso e o ministro da Fazenda, Pedro Malan – a Proposta de Emenda Constitucional de número 175, que, na avaliação de Garotinho, propõe o confisco da caderneta de poupança dos brasileiros.

“É simples, é aquilo que o Collor (ex-presidente Fernando Collor de Mello) fez”, afirmou Ciro ao analisar o teor da proposta, a pedido do adversário socialista. A PEC é de 1995, quando Serra ainda era ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique. Serra pediu direito de resposta para se defender da acusação e negou que o objetivo da PEC fosse o de promover confisco.

“Empréstimo compulsório tem de ser aprovado por lei”, argumentou o tucano. “Não tem nada a ver com corralito, poupança. É algo que se faz sobre combustível, preços muito elevados.”

Lula aproveitou a parte final do debate para ler um bilhete entregue por uma garotinha, que participou seu último comício realizado segunda-feira em Porto Alegre (RS). O bilhete faz uma referência à oração de São Francisco de Assis. E Lula promete atender o pedido da pequena eleitora e fazer um governo como São Francisco. “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente estará fazendo o impossível”, dizia o bilhete.

Ao final, Lula disse que só a sua candidatura recuperará a dignidade do povo brasileiro. “Esse país não vai quebrar nunca, não será pedinte. Peço que Deus ilimune cada eleitor.”

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