Só se fala em Irmã Dulce. Ou, a partir deste domingo, 13, oficialmente Santa Dulce dos Pobres. Uma caminhada pelos arredores da Praça São Pedro, no Vaticano, na manhã ensolarada deste sábado, 12, é a certeza de ouvir – em bom português – alguma história de devoção, admiração ou agradecimento pela freira baiana que será a 37ª santa brasileira.
Não há um número exato do tamanho da caravana brasileira que deve marcar presença durante a cerimônia deste domingo. Estimativas extraoficiais que circulam entre jornalistas variam de 6 mil a 15 mil pessoas. No total, a missa deve reunir 30 mil fiéis na Praça São Pedro, a partir das 10h15 (5h15, horário de Brasília).
O rito de canonização costuma ocorrer logo no início da cerimônia, após a oração inicial e a saudação do papa. Além de Irmã Dulce (1914-1992), serão oficializados santos o teólogo e cardeal inglês John Henry Newman (1801-1890), a religiosa italiana Giuditta Vannini (1859-1911), a religiosa indiana Maria Thresia Chiramel Mankidiyan (1876-1926) e a catequista e costureira suíça Margherita Bays (1815-1879).
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Os cinco nomes serão apresentados oficialmente pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o posto ocupado atualmente pelo cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu. Quando o papa rezar a fórmula da canonização, os cinco se tornam canonizados.
Será um momento de festa. A expectativa é grande, sobretudo dos brasileiros. A auditora federal Sheila Weber, de 42 anos, veio de Salvador “não para pedir nada para a nova santa, mas só para agradecer”. Filha de mãe judia e de pai que não segue religião, ela conta que quando tinha 6 anos descobriu que fazia aniversário no mesmo dia que a Irmã Dulce, 26 de maio. Com uma curiosidade: no mesmo dia em que ela completaria 7 anos, a freira faria 70. “Quis conhecê-la pessoalmente e minha mãe me levou”, conta.
Foi o começo de uma tradição. Até a morte da religiosa, todos os anos elas se viam no aniversário. “Quando eu era criança eu levava moedinhas. Era meu jeito de tentar ajudar nas obras dela”, recorda-se. “Também fazia desenhos que mostrava para ela. Sempre atenciosa e acolhedora.” Depois da morte de Irmã Dulce, ela diz que decidiu se tornar voluntária das obras sociais criadas pela freira. Atua na Osid, a instituição, há 19 anos.
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A médica hemoterapeuta Marília Sentges, de 61 anos, também conviveu de perto com a religiosa. Quando estava no quinto ano da faculdade, na Escola Bahiana de Medicina, conheceu as obras da freira. E começou a atuar na instituição. Hoje coordena o banco de sangue do hospital. “Da convivência com ela, o que mais me marcou foi o olhar humano com que ela lidava com médicos e pacientes. Circulava e conversava com todos, sempre com carinho e amor”, comenta. “E isso não dependia de religião: ela tratava a todos da mesma maneira, fosse o católico, fosse do candomblé. Ela não fazia distinção.”
Marília revela que havia uma coisa que deixava a Irmã Dulce brava. “Ela não gostava nem de ouvir quando alguém chamava o hospital de ‘hospital da Irmã Dulce'”, relata. “Corrigia na hora: ‘o hospital é de Deus, não é meu’. Falava que se fosse dela, a obra acabaria com sua morte. Sendo de Deus, jamais iria acabar.”
A religiosa realmente atraiu e segue atraindo a admiração de adeptos de outras religiões. Evangélica, a administradora de empresas Maria de Oliveira, de 29 anos, saiu de Salvador e veio para Roma para acompanhar de perto a canonização da sua conterrânea. “Mesmo não sendo católica, vejo em Irmã Dulce a essência do amor de Deus. Ela é o amor de Deus manifestado”, explica.
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No caso dela, a Osid marcou profundamente a vida pessoal. Quando sua mãe sofreu um AVC, ela passou por vários hospitais públicos e, segundo Maria, não foi tratada como ela esperava. “Então ela foi assistida pela Osid. Ali teve mais do que assistência médica. Teve amor, carinho, assistência humana”, relata. A mãe acabou morrendo em 2014. Mas, nas lembranças de Maria, ficou a gratidão pela dignidade recebida – método Irmã Dulce de cuidar dos doentes.