Basta esquentar e chover para os pernilongos ganharem a cidade. A cena comum a todo verão parece, no entanto, ter saído do controle neste ano. A proliferação dos mosquitos é assunto nas redes sociais, nas reclamações à prefeitura regional e motivou um abaixo-assinado com mais de 8.300 assinaturas pedindo dedetização da margem do Rio Pinheiros. Diante da comoção, o prefeito João Doria (PSDB) conversou nesta terça-feira, 10, com assessores para saber a logística da operação de pulverização do rio. Para quinta-feira, 12, deve haver um novo fumacê na região.
Na avaliação do prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, a situação “é caótica”. “Já vi 40, 50 (mosquitos) em um poste de luz. É uma coisa absurda”, diz ele, que também deve participar da ação de amanhã, ao lado do secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara.
Em seguida, a Prefeitura planeja uma reunião para definir os pontos estratégicos e um plano de ação para o combate ao mosquito. No abaixo-assinado, moradores questionam se o controle da margem do rio vinha sendo feito. De acordo com a assessoria da gestão Haddad, a aplicação de larvicidas biológicos era quinzenal e não foi interrompida, mas disse que o efeito pode ter sido enfraquecido pelas chuvas do fim do ano.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde da gestão municipal atual também citou o intervalo de 15 dias como praxe para garantir a manutenção do poder larvicida residual. Questionada sobre qual poderia ser o motivo para o aumento das queixas dos moradores, a pasta informou, também por nota, que “o volume de reclamações tende a subir no verão, com temperaturas mais altas e mais chuvas, fatores que predispõem a altas proliferações de mosquitos”.
A entomologista (especialista em insetos) Maria Anice Sallum, professora da Universidade de São Paulo (USP), lembrou que este verão está mais quente que o normal. E confirmou que a aplicação de larvicidas e do inseticida para adultos depende das condições climáticas.
Onda de calor.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital paulista completou nesta terça-feira 23 dias de temperaturas máximas maiores ou iguais a 30°C. A média histórica das máximas para dezembro é de 26,9°C e para janeiro, de 27,8°C, condição que pode estar favorecendo o mosquito, juntamente com a água acumulada em criadores.
Na percepção da analista de seguros Thaís Villas Boas, de 37 anos, que iniciou o abaixo-assinado, o problema ficou mais evidente justamente quando começou a onda de calor.
“Eu e meu filho somos alérgicos a picadas, sou síndica do meu prédio (na Vila Madalena) e todo mundo só falava nisso. Na semana passada, ficou muito pior, de não conseguir dormir de janela aberta, o que eu fazia antes. Aí resolvi fazer um desabafo, achei que recolheria umas cem assinaturas, mas aí vi que o problema é muito maior.”
A artista plástica Beth Klock, de 61 anos, moradora há 22 anos de uma casa no Alto da Lapa, também conta que nunca viu nada igual. “Cheguei a encher uma pá de lixo com mosquitos mortos num único cômodo da casa. Um verdadeiro absurdo. São ‘Culex’ gigantes. E o veneno de tomada não faz o menor efeito. Alguns aerossóis também não. Eles caem, mas logo ‘ressuscitam’. Descobri que tinha de pisar neles, ou então, matá-los afogados”, diz. “Minha estratégia agora é manter vidros fechados e dormir com o ar ligado em no máximo 20 graus. A conta do pernilongo vai ser salgada.”
Grávida de oito meses, a psicóloga Luisa Flosi Godoy, de 30 anos, moradora da Pompeia, não sabe mais o que é ter uma boa noite de sono. É um ritual: a aplicação do repelente corporal de quatro em quatro horas, somada a toda sorte de inseticidas. O spray automático, ligado o tempo todo dentro da casa. Aquele de tomada, no plugue todas as noites. E, sempre que necessário, um reforço do spray manual também. Fora a raquete elétrica sempre à mão.
Na tarde desta terça-feira, técnicos instalaram tela mosquiteira em todas as janelas de sua casa. “Espero resolver agora. Porque não tenho sossego: é dia e noite”, conta ela, que investiu R$ 3 mil no sistema para tentar proteger a casa.