O PPS anunciou hoje que apoiará o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, com uma “participação crítica e independente”. A decisão foi tomada para contemplar principalmente o PPS gaúcho, que tem divergências regionais com o PT do Rio Grande do Sul e resiste à aproximação com os petistas.

O tom a ser assumido pelo partido foi dado pela senadora eleita, Patrícia Gomes (PPS-CE), ex-mulher do candidato derrotado da Frente Trabalhista (PPS-PPB-PDT), Ciro Gomes (PPS). Já o presidente nacional do PPS  senador Roberto Freire (PE), optou pelo discurso diplomático e elogioso. “A participação no governo Lula será honrosa”, disse o parlamentar. Em seguida, acrescentou: “Será uma honra para o Lula ter um Ciro Gomes como ministro”.

A expectativa é que amanhã, durante a reunião das bancadas do Senado e da Câmara, Ciro Gomes defina como o partido deverá pôr em prática os conceitos de crítica e independência. Ontem à tarde, o candidato derrotado conversou longamente com o presidente eleito, em São Paulo. Após o encontro, Ciro Gomes disse, em tom de brincadeira, que adoraria ser convidado a ocupar o cargo de “fiscal de praia”.

Única senadora eleita pelo PPS, Patrícia Gomes resumiu como o partido deverá se comportar em relação ao governo Lula. “Vamos apoiar o que for bom e teremos uma posição crítica sobre o que não concordarmos. Nós temos uma responsabilidade e a idéia é que podemos trabalhar e tomar decisões juntos”, disse ela. Essa posição de crítica e independência deverá dominar as discussões que o PPS terá durante este fim de semana em Brasília. No domingo, deverão ser anunciadas as decisões finais do encontro.

O PPS gaúcho resiste a declarar apoio incondicional ao governo Lula porque trava uma batalha regional com o PT do Rio Grande do Sul, tanto é que no segundo turno das eleições no Estado, o partido apoiou o candidato do PMDB, Germano Rigotto, que derrotou o petista Tarso Genro.

“O PT do Rio Grande do Sul é o que há de mais atrasado, é dos tempos das cavernas”, afirmou o deputado Nelson Proença (PPS-RS). “Mas que fique claro: o PT do Rio Grande não tem nada em comum com o PT do Lula, do Antonio Palocci e do José Genoíno. Por isso eu acho que vale a pena dar um crédito de confiança”, completou.

Para o presidente do PPS, essas divergências serão resolvidas com tranqüilidade. Roberto Freire acha que o PPS deve colaborar com o PT, independentemente de ocupar cargos no futuro governo: “Nós vamos cooperar com o Lula, pois há sinais muito positivos de que haverá um governo de coalizão, numa demonstração de que o PT saiu daquela arrogância, em que acreditava que sozinho poderia governar”.

Empenhado em ganhar adeptos para o mesmo discurso, o líder do PPS na Câmara, deputado João Herrmann (SP), disse acreditar que a bancada dobrará dos 15 deputados eleitos para 30. Segundo ele, as conversas com integrantes do PFL, PSDB, PMDB e PPB têm avançado. “Não estou chamando ninguém para entrar no governo. Vir para o PPS é fazer parte de um processo”, disse Hermann.

O PPS decidiu apoiar o acordo feito entre PT e PMDB, no qual os dois partidos prometeram repartir as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Para Freire, o governo de Lula deve ser cauteloso ao discutir o aumento do salário mínimo e as verbas do Orçamento Geral da União. “Não é o PT que é responsável pelo Orçamento, o máximo que pode fazer são mudanças superficiais. A responsabilidade é do atual governo”, disse o senador. “O PT cometeu o equívoco de apressar as discussões. O problema não é só de boa vontade, há questões objetivas e limites”, acrescentou.

A proposta de aumentar em 115% nos salários dos parlamentares, que passariam de R$ 8.280 para R$ 17.125, foi duramente criticada pelo presidente do PPS. “É um absurdo, sou totalmente contra. Parlamentar tem de ter o mesmo percentual de reajuste que for concedido aos servidores”, afirmou Freire. Pela proposta de Orçamento enviada pelo governo ao Congresso, o aumento a ser concedido ao funcionalismo público é aproximadamente 5,5%.

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