Brasília – O secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, disse ontem, que o governo do presidente George Bush apóia o programa de combate à fome e à miséria no mundo proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas discorda da maneira de arrecadar os recursos para isso, taxando o comércio internacional. “Essas idéias são impraticáveis”, afirmou Powell, embora admitisse que “a miséria e a fome são dois inimigos do mundo”.
Na entrevista, o secretário repetiu o que já dissera anteontem: os EUA condicionam seu apoio à pretensão do Brasil de integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas ao aumento do número de membros do Conselho. Segundo Powell, o Brasil, em virtude de seu papel de liderança na América Latina, da natureza de seu sistema político e de seu tamanho, “é o candidato mais forte ao Conselho”.
Embora os EUA venham insistindo para que o Brasil aceite a inspeção de suas instalações nucleares pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Powell disse que “não há dúvida” de que o Brasil quer usar a energia nuclear para fins pacíficos e manifestou compreensão para o fato de o Brasil querer proteger a sua tecnologia no setor.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, disse ontem que o País pode chegar ainda este mês a um acordo definitivo com a Agência Internancional de Energia Atômica (AIEA) sobre as inspeções na unidade de enriquecimento de urânio de Resende, no Rio. “No ponto em que a negociação está, a conversa poderá ser definitiva”, disse Campos, referindo-se à nova missão de técnicos da AIEA que chega ao país no próximo dia 18. “Os princípios já estão acordados.”
O ministro, porém, deu a entender que o Brasil não deve ceder aos apelos da comunidade internacional, Estados Unidos à frente, para autorizar maior acesso aos equipamentos da unidade de Resende. “Os téncicos poderão fazer seu trabalho com independência e vão construir um caminho seguro para a Agência, e seguro para a tecnologia brasileira, que temos que preservar, como fazem os outros países do mundo”, disse Campos, que participou de seminário em São Paulo.
Campos lembrou que o Brasil é um dos fundadores da AIEA, é signatário dos tratados internacionais nessa área, que tem um programa para fins eminentemente pacíficos. Ele ressaltou ainda que o Brasil, que tem 41 instalações inspecionadas, nunca se opôs à fiscalização e que o País é um dos poucos que permitem inspeção em instalações militares. Uma prova do estreito relacionamento do Brasil com a AIEA, segundo Campos, foi o envio pela Agência de 90 técnicos para fazer pós-graduação no País em 2003.