Como no samba-exaltação de Paulinho da Viola, a Portela pintou de azul
a Passarela do Samba. Encantou o público e fez um desfile de candidata ao título deste carnaval – foi saudada assim ao fim da apresentação por parte das arquibancadas. O enredo da escola de Madureira era a Avenida Rio Branco, a via mais representativa do centro do Rio, seu entorno e as transformações por que a região passou do século 16 ao 21.
A passagem da Azul-e-branca mexeu com a Sapucaí desde o comecinho, quando alçou voo uma águia (símbolo da Portela) drone comandada por controle remoto. A tecnologia é da Marinha e vinha sendo testada havia três meses secretamente, segundo o carnavalesco Alexandre Louzada.
Outra novidade foi a escultura de 18 metros de altura que simbolizava o “gigante adormecido que acordou”, uma alusão às manifestações de rua iniciadas em junho do ano passado. Ele ora se abaixava, tomando o formato de uma rocha, ora se levantava, uma referência ao levante popular em busca de melhores condições de vida. A Sapucaí ficou atônita e aplaudiu muito. Segundo Louzada, é a maior escultura que passou na avenida em 30 anos de Sambódromo.
De asas abertas, as 22 águias do abre-alas – simbolizando os 21 títulos conquistados em nove décadas de história, e a vitória almejada este ano – chamaram atenção pela beleza plástica. A maior delas, de 14 metros de envergadura, grunhiu alto, convocando o público.
Apesar de o prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarar-se portelense, e
de o tema ser carioca e atual (a Rio Branco passa no momento por mais
transformações”, a escola afirma que não teve patrocínio do município, segundo
Louzada. “Invocamos (o compositor) Candeia e todas as raízes negras da
Portela, como um pedido de axé para essa nova fase, que é de
renascimento”, explicou o carnavalesco.
O momento é de otimismo na escola, que vem de uma década afundada em dívidas (num total de quase R$ 7 milhões, com fornecedores e órgãos públicos e trabalhistas)
e sob uma gestão tida como fraudulenta. O novo presidente, Sergio Procópio, é compositor e tem o apoio dos portelense históricos. “Estamos num recomeço. Quando a escola se volta para si mesma, constrói algo com mais verdade”, disse Paulinho da Viola. “Antes não tinha amor (pela Portela), e sem amor nada vai pra frente. A Portela se encontrou”, garantiu Monarco, um dos maiores ícones da escola.