A pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), divulgada hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que o brasileiro tem problemas no acesso à rede pública de saúde, mas quando é atendido, avalia bem o serviço. “Uma vez que (o cidadão) entra no sistema, ele avalia bem o serviço, mas a pesquisa mostra problemas no acesso a esses serviços, como demora na consulta com um especialista”, diz a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Luciana Mendes, durante apresentação do levantamento, em Brasília.
De acordo com a pesquisa, o programa “Saúde da Família” é o mais bem avaliado pela população: 80,7% dos entrevistados que receberam atendimento consideram o programa bom ou muito bom. Já 14% o veem como regular e 5,4%, ruim ou muito ruim. O “Saúde da Família” foi o serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) mais bem avaliado em quatro das cindo regiões do País – apenas no Centro-Oeste ficou em segundo lugar. A distribuição gratuita de remédios foi qualificada como boa ou muito boa por 69,6% e como ruim ou muito ruim por 11%, enquanto 19,4% avaliaram como regular.
Por outro lado, o atendimento em centros e postos de saúde e atendimento de urgência e emergência foram os serviços pior avaliados. O atendimento de urgência e emergência, inclusive, recebeu a maior proporção de respostas ruim ou muito ruim (31,4%), enquanto os centros de saúde tiveram 31,1% de avaliação ruim ou muito ruim.
“Os entrevistados avaliam bem os serviços relacionados a atendimentos em que o acesso ao serviço é previamente agendado ou rotineiro, como as consultas marcadas com médicos especialistas, a distribuição gratuita de medicamentos e o atendimento da “Saúde da Família”. Nesses casos, a percepção da qualidade (ou satisfação) do atendimento é mais positiva e o problema parece ser obter acesso ao atendimento, ou ao medicamento necessário, em um período de tempo considerado razoável”, diz o relatório do Ipea.
“É bastante consistente quando os pesquisados dizem qual é a demanda da rede pública e qual é o problema”, afirma Luciana, ao mencionar os dados que indicam que a principal reclamação do usuário está relacionado ao fator tempo de atendimento.
Segundo a sondagem do Ipea, a contratação de novos médicos foi o item mais sugerido pelos entrevistados para a qualificação do SUS. Logo depois, a sugestão mais citada foi a redução no tempo de atendimento em serviços de urgência e para consulta médica. A conclusão do estudo afirma que ambas respostas estão relacionados ao tempo de espera do paciente pelos serviços da rede pública. “A gente tem problemas de continuidade e demora dos serviços”, afirma Luciana.
Experiência de atendimento
O Sistema de Indicadores de Percepção Social mostra também que as avaliações são melhores quando o entrevistado já passou por atendimento em um desses serviços ou acompanhou familiares na busca pela rede pública. Na opinião de 30,4% dos pesquisados, os serviços prestados são bons ou muito bons, proporção maior de avaliações positivas se comparado àqueles que declararam não ter utilizado o SUS (19,2%). Dos que se beneficiaram da rede pública, 27,6% avaliam como ruim ou muito ruim, ante 34,3% daqueles que não utilizaram os serviços. “A experiência de utilização de fato influencia na avaliação”, diz Luciana.
A pesquisa indica ainda que “avanços proporcionados pela criação e implantação do SUS estão sendo percebidos pelos entrevistados como valores sociais relevantes”. A gratuidade da rede foi o ponto positivo mais citado (52,7%), seguido por atendimento sem nenhum preconceito (48%) e distribuição gratuita de medicamentos (32,8%).