Rio – Casos de políticos brasileiros envolvidos em corrupção ou enriquecimento suspeito são extensos e quase regra. Sobre o ex-governador Ademar de Barros, de São Paulo, havia uma frase que justificava a corrupção: “Rouba, mas faz”. Sobre os ex-governadores Orestes Quércia e Paulo Maluf pesam suspeitas históricas. O último negou há alguns dias depósitos milionários feitos em sua conta na Suíça, quando prefeito de São Paulo. O ex-presidente do Senado, Jader Barbalho, não se livrou dos processos de maracutaias quando ministro. Estes são apenas alguns casos notórios. Mas um estudo, no Rio, revela que a maioria dos políticos usa o poder para aumentar o patrimônio e ficar rica.
Um levantamento inédito revela que 27 deputados do Rio aumentaram em mais de 100% seu patrimônio, de 1996 a 2001. A análise mostra que quase 80% dos parlamentares, que forneceram ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pelo menos duas declarações de renda no período, tiveram crescimento nos bens, provando que, além de bons de voto, muitos são empresários bem-sucedidos. Dezessete deputados, declarando ou não atividades empresariais, superaram todos os outros investimentos do mercado no mesmo período.
O levantamento feito pelo jornal O Globo revela que a crise econômica dos últimos anos não abalou ocupantes do principal endereço político do Rio: a Assembléia Legislativa. A pesquisa usou dados públicos fornecidos pelo TRE, que recebeu dos próprios deputados documentos oficiais da Receita Federal ou declarações por escrito de seus bens. A análise reuniu 70 dos 113 deputados que tiveram cadeira no Legislativo no período. Dezenove (candidatos apenas uma vez) só tinham uma declaração arquivada, nove afirmam não ter patrimônio e outros quatro não atribuíram valores aos bens declarados.
No período analisado com a ajuda de especialistas econômicos, um seleto grupo de oito deputados atingiu a casa do milhão de reais. E mais: três tiveram um aumento percentual no patrimônio superior a 1.000%. Líder do PMDB e um dos homens mais influentes do parlamento fluminense, o deputado Paulo Melo diz que o ingresso na política pesou a seu favor: “O fato de ser notório lhe dá credibilidade. O cara tem confiança em você. Ser deputado virou profissão. É como se fosse título nobre, dá prestígio. Tenho consciência de que sou bom deputado. Mas sou empresário bem-sucedido”.
O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), faturou em 2003, num único dia, R$ 938 mil com a venda de embriões e sêmen bovino no leilão Ópera & Bilara, no Copacabana Palace. “As rendas principais do deputado Picciani não guardam relação com sua atividade política”, tentou justificar o advogado Sérgio Mazzilo sobre o crescimento patrimonial de seu cliente.
Entre 1996 e 2001, período analisado, o Brasil enfrentrou crises financeiras. Segundo o IBGE, a renda média do trabalhador caiu 8,7%. Os 5% mais ricos tiveram queda ainda maior: 9,9%. O Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento ínfimo, pouco mais de 10%, pelo fraco desempenho do setor produtivo, área onde os deputados alegam ter feito dinheiro.
A área econômica com maiores rendimentos foi a financeira. Quem investiu nos CDIs teve ganhos de 175%. As ações da Petrobras, um dos bons negócios do período, cresceram 218%. Dezessete parlamentares tiveram rentabilidade superior a todos esses investimentos. Marco Gazel, consultor paulista, diz que um investimento é bom quando rende de 10% a 12% acima da inflação. A partir daí, os negócios são de grande risco, como no mercado de ações, ou provavelmente ilegais.