Policial que atirou em gari estava descontrolado

A cúpula da Segurança Pública paulista disse hoje que o o policial militar preso após matar um gari evangélico em Avaré (a 262 km de São Paulo), ao confundir sua Bíblia com uma arma, agiu com descontrole, apesar de ser preparado.

Este foi o segundo caso no ano em que policiais se confundiram. Em julho, três PMs atiraram e mataram o empresário e publicitário Ricardo Prudente de Aquino, ao confundirem seu celular com uma arma. O caso ocorreu na capital paulista.

“Esses casos todos estão merecendo uma resposta imediata. O de Avaré foi alvo de prisão em flagrante por homicídio doloso. Revela um descontrole, sem dúvida”, disse o secretário Fernando Grella (Segurança Pública).

“Nós não toleramos esse tipo de coisa. Providências estão sendo tomadas, tanto preventivamente, para a reciclagem e reorientação, quanto repressivamente, nas situações concretas que estão se colocando. E nós esperamos que dentro de alguns meses a gente consiga reverter sensivelmente esse quadro.”

Já o coronel Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM, negou que o caso seja fruto de despreparo da polícia.

“Eu não considero o policial despreparado, considero que foi uma atitude precipitada da parte dele, em que ele teve que usar a arma de fogo em um momento de tensão, um momento que ele estava ali entre o atiro ou não atiro, faço ou não faço”, afirmou.

Meira disse ainda que deve ser levado em conta o contexto da situação. “O local é ermo, escuro, a pessoa estava em atitude suspeita, daí a razão da abordagem. Não estou querendo, com isso, justificar a ação do policial, mas nós temos que levar em consideração esse fatores.”

O coronel disse que o policial responde a processo administrativo que pode levá-lo a ser expulso da corporação e também deve responder a processo criminal na Justiça.

“Aquele resultado nenhum de nós queríamos, em especial o próprio policial envolvido. Ele está obviamente arrependido daquilo que fez, do erro que cometeu.”

O militar também defendeu a atuação da polícia e disse que se trata de um caso isolado. “Temos uma infinidade de ações positivas que não são ressaltadas, e isso tem que ser mostrado. É lógico que as ações negativas acabam sobressaindo, essa foi uma delas. E foi um desastre, foi uma fatalidade. É uma pena.”

O caso

O caso aconteceu por volta das 20h de anteontem no bairro Bonsucesso, quando o gari da Prefeitura de Avaré Antonio Marcos dos Santos ia para um culto religioso.

Policiais militares faziam patrulhamento na rua Félix Fagundes quando suspeitaram do gari e pediram para ele levantar as mãos. Segundo o cabo João Samir de Oliveira, 36, que estava acompanhado do sargento Carlos Piagentino da Silva, 35, o gari não teria atendido a ordem de levantar as mãos dada sucessivas vezes e, num dado momento, tentou retirar um objeto que levava sob a camisa, que parecia ser uma arma de fogo.

Foi neste momento que o cabo disse ter sacado a pistola e efetuado um disparo. O gari foi atingido no pescoço.

O policial disse que efetuou o disparo porque pensou que o canto da capa dura da Bíblia (que é de cor escura) fosse o cabo de uma arma de fogo.

Os policiais chegaram a levar Santos para um pronto-socorro, mas o gari não resistiu aos ferimentos e morreu.

O cabo Oliveira foi preso em flagrante sob suspeita de homicídio e transferido ontem mesmo para o Presídio Militar Romão Gomes, no bairro da Água Fria (zona norte de São Paulo). Ele está na PM há 11 anos e sete meses.

Segundo o major Maurício José Raimundo, subcomandante do 53º Batalhão do Interior, o cabo é um PM respeitado pelos colegas e não havia nada que levasse o comando a suspeitar da versão apresentada por ele sobre o caso.

O major disse ainda que familiares de Santos afirmavam que a vida do gari praticamente se limitava a trabalhar e ir à igreja.

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