Quatro policiais civis do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) estão foragidos desde anteontem, após serem acusados de sequestrar, no dia 28 de junho, dois ônibus com sacoleiros vindos do Paraguai e exigir R$ 100 mil para libertá-los. A Justiça decretou a prisão preventiva dos suspeitos no dia 25, mas, por causa da lei eleitoral, as buscas só começaram anteontem.
O sequestro teria sido arquitetado pelo investigador Valmir Carvalho Leite, de 50 anos, da 1.ª Delegacia de Crimes contra a Propriedade Imaterial do Deic, que na época estava em férias, mas mantinha contato com um informante que estava em um dos ônibus de sacoleiros. Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, ele convidou três colegas do Deic para extorquir dinheiro dos sacoleiros. Leite já era investigado por supostamente integrar uma quadrilha de policiais civis que cobra propina de comerciantes da feira da madrugada no Brás, região central, e estava com o telefone grampeado.
Em uma das interceptações, o informante avisa o investigador sobre a chegada de um ônibus carregado com “fumaça” (cigarros) e outro com “mídia” (DVDs piratas) no dia 28 de junho. Na manhã do crime, Leite teria ido até a sede do Deic, em Santana, na zona norte, acertar os detalhes da ação com Marcelo Garcia Bilhordes, de 40 anos; José Vandir Ferreira, de 40; e Carlos Benedito Felice Junior, de 42; todos da 2.ª Delegacia de Crimes Contra a Fé Pública. De lá, os três seguiram para a Marginal do Tietê onde, por volta das 14h30, interceptaram os dois ônibus na altura da Ponte do Piqueri. “Eles foram levados para uma rua sem saída nas imediações do Deic, onde ocorreu a extorsão mediante sequestro”, diz o delegado Renato Francisco de Camargo Mello, da Divisão de Operações Policiais da Corregedoria.
Segundo os sacoleiros, Felice Junior, Bilhordes e Ferreira teriam exigido a quantia de R$ 100 mil para libertá-los, sob ameaça de entregar todos à Polícia Federal pelo crime de descaminho. De acordo com a Corregedoria, por mais de cinco horas eles foram impedidos de sair dos ônibus. Um dos sacoleiros tentou fugir pela janela e foi agredido.
Os policiais teriam afirmado que o dinheiro deveria ser entregue até o fim do jogo entre Brasil e Chile, pela Copa, disputado naquela tarde, “pois o delegado estava na sede do Deic vendo o jogo e após o término da partida não haveria mais chance de acordo”. O delegado titular da 2.ª Delegacia de Crimes Contra a Fé Pública, José Roberto de Arruda, negou participar do esquema.
Às 19h50, os policiais levaram os dois ônibus para a PF, onde 22 passageiros foram ouvidos pela delegada de plantão. Alguns narraram a suposta extorsão e os depoimentos foram enviadas à Corregedoria da Polícia Civil.
Defesa
Aldo Soares, advogado dos quatro policiais, disse que seus clientes agiram dentro da lei e são inocentes. Segundo ele, os investigadores apreenderam os ônibus com contrabando e levaram os sacoleiros para o Deic. Ele afirmou que, por ser um crime de descaminho, a ocorrência foi levada para a PF. Soares disse ainda que os sacoleiros não foram sequestrados. “Alguns desceram dos ônibus para fumar. Outros entraram no prédio do Deic para usar o banheiro.”