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Policiais paulistas envolvidos em tiroteio não poderiam fazer segurança

Os nove integrantes da Polícia Civil de São Paulo envolvidos na operação de troca de dólares por dinheiro falso que resultou na morte de um policial civil mineiro, em Juiz de Fora, cometeram também falta funcional grave, além dos crimes pelos quais quatro deles – dois delegados e dois investigadores – estão presos. A Lei Complementar 2007/79 proíbe delegados e policiais civis de exercerem, “mesmo nas horas de folga, qualquer outro emprego ou função, exceto atividade relativa ao ensino e à difusão cultural, quando compatível com a atividade policial”. O “bico” em escolta ou segurança é falta grave, punida com sanções que vão da advertência à demissão do serviço público.

Os envolvidos, em sua maioria, são policiais jovens e não tinham registros antecedentes de infrações funcionais graves. O delegado Rodrigo Castro Salgado da Costa, de 31 anos, do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil de São Paulo, um dos presos em Minas, faz parte de uma safra de delegados em início de carreira que têm atuado com destaque em algumas ações na capital paulista. Ele é amigo do investigador Jorge Alexandre de Miranda, de 50 anos, lotado no Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), que por sua vez é meio irmão de Jerônimo da Silva Leal Junior, dono de uma empresa de segurança da capital.

Jerônimo tinha sido contatado pelo empresário Flávio de Souza Guimarães, interessado em levar uma quantidade expressiva de dólares até Juiz de Fora (MG), e conversou com Jorge sobre o trabalho, pedindo que o ajudasse a recrutar policiais para ajudá-lo na escolta. O convite chegou a Rodrigo que, por sua vez, exigiu que outros policiais, seus amigos, participassem da operação, convidando o colega delegado Bruno Martins Magalhães Alves, de 30 anos, assistente do 95º Distrito Policial (Heliópolis). Alves atuou como advogado, mas pediu baixa em sua inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para se dedicar à carreira policial.

Outros seis policiais, os investigadores Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, Marcelo Pailotti de Almeida e Eduardo Alberto Modolo Filho, os agentes Cristhian Fernandes e Ferreira Cesar Raileanu, e o carcereiro Leandro Korey Kaetsu, foram chamados para dar suporte à operação. O delegado Rodrigo viajou a Juiz de Fora no avião fretado pelo empresário, enquanto os outros oito policiais foram em dois carros alugados.

O negócio seria realizado no lobby de um hotel, próximo do Hospital Monte Sinai, mas o doleiro mineiro Antonio Vilela não compareceu no horário marcado. Os paulistas chegaram a crer que não haveria negócio e os cinco agentes foram liberados para retornar a São Paulo. Antes que o resto do grupo se deslocasse, um dos negociadores mineiros informou que o dinheiro estava no estacionamento, no subsolo do prédio de consultórios anexo ao hospital. O empresário, o delegado Rodrigo e Jerônimo foram até o local.

Conforme a versão dos policiais paulistas, que não é confirmada pela polícia mineira, Vilela estava no estacionamento acompanhado dos policiais civis mineiros, que lhe davam proteção. Foi quando se descobriu que os R$ 15 milhões levados para a troca com os dólares eram falsos. Imagens de câmeras instaladas no local mostram que Vilela tentou segurar o empresário Guimarães e Jerônimo reagiu, iniciando o tiroteio que matou o investigador mineiro Rodrigo Francisco.

Houve revide e ele também foi baleado no tórax, passou por cirurgia e continua internado no Hospital Monte Sinai. Seu estado é grave, mas estável – ele foi autuado em flagrante pela morte do policial. Guimarães conseguiu fugir e voltou de avião para São Paulo. Vilela foi ferido no pé, passou por cirurgia, teve alta e foi levado para o presídio de Juiz de Fora. Em 2009, ele já havia sido autuado por estelionato envolvendo dinheiro falso.

Os delegados Rodrigo e Bruno e os investigadores Jorge Alexandre e Caio Augusto tiveram a prisão preventiva decretada por lavagem de dinheiro, mas podem responder também por homicídio doloso, prevaricação, sonegação fiscal, quadrilha armada e organização criminosa. Os policiais mineiros Marcelo Matolla de Resende, Leonardo Soares Siqueira e Rafael Ramos dos Santos, foram indiciados por prevaricação, mas ainda é investigado se eles tiveram participação maior no caso.

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) de Minas Gerais informou que o caso continua sob investigação pela Polícia Civil que, por sua vez, informou que só dará mais detalhes ao final da apuração. A corporação não informou se os policiais civis mineiros estavam em serviço no momento da abordagem. A reportagem perguntou à Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) se os policiais paulistas estavam de folga e se registravam antecedentes de faltas funcionais, mas não tinha obtido retorno até as 19 horas.

Conforme o registro da ocorrência na Polícia Civil de Juiz de Fora, os policiais paulistas usavam armas e objetos da corporação. Além de 16 pistolas, foram apreendidos coletes à prova de bala de uso restrito, distintivos de delegado, algemas, carregadores de munição, cartuchos intactos de uso restrito, cartuchos deflagrados e chumbo granulado destinado à fabricação de munição.

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