Policiais militares abandonam reconstituição do caso Amarildo

Intimados a participar da reconstituição policial da sequência de eventos que antecedeu o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza na Rocinha em 14 de julho, PMs sob investigação no caso abandonaram o local antes do seu início, com autorização do chefe do Estado-Maior da Polícia Militar. Os policiais, que tinham sido convocados na qualidade de testemunhas, só retornaram após as 18h30 deste domingo, 1º, depois que o delegado titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, telefonou de dentro da sede da Unidade de Polícia Pacificadora para o comandante geral da PM, coronel José Luís Castro. O oficial contornou a crise entre as Polícias Civil e Militar, ordenando o retorno dos policiais para o início dos trabalhos, que deverão se prolongar pela noite de hoje e madrugada de amanhã.

A reconstituição estava marcada desde a semana passada para as 15 horas de hoje, e os PMs – além dos quatro que abordaram Amarildo, outros 15 que estavam de plantão naquele dia também foram convocados – deixaram o local às 15h55, sob a alegação de que a equipe da Polícia Civil responsável pelo trabalho não havia “cumprido o horário”. Pouco depois, Barbosa chegou à sede da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha às 16h10. Surpreendido com a situação, contatou o coronel Castro, que determinou que seus subordinados voltassem. Por volta de 19 horas, a reconstituição começou, com quatro horas de atraso.

“Não temos hora para terminar. Vão ser feitas várias simulações para esclarecer dúvidas e omissões”, disse o delegado. Segundo ele, se as condições de luz inviabilizarem algum trecho da reconstituição, essa parte poderia ser repetida em outra ocasião.

 

Segundo Barbosa, a ordem da reconstituição será cronológica, desde o momento em que Amarildo foi abordado pela primeira vez até aquele em que o pedreiro teria deixado a sede da UPP, segundo a polícia. Está prevista a participação de testemunhas, de moradores e parentes de Amarildo. Não será abordado o trajeto percorrido fora da favela pelo carro da PM que levou Amarildo de sua casa até a sede da UPP. Dados do GPS do rádio da viatura registraram o percurso.

 

Cerca de 100 policiais civis estão no local para participar da reconstituição, entre peritos e agentes da Divisão de Homicídios e da Core (Coordenadora de Recursos Especiais). A Polícia Civil informou que dois PMs pediram para participar encapuzados dos trabalhos.

Mais cedo, antes de deixar o local, o advogado dos quatro PMs suspeitos, Marcos Espínola, disse que seus clientes (os soldados Victor Vinícius Pereira da Silva, Douglas Roberto Machado, Jorge Luiz Gonçalves Coelho e Marlon Campos Dias) haviam sido notificados para chegar à sede da UPP ao meio-dia. “Os PMs chegaram ao meio-dia e até agora a Polícia Civil não apareceu. Eles foram liberados com autorização do chefe do Estado Maior pelo motivo de a Polícia Civil não ter cumprido o horário”, disse Espínola.

Em entrevista no início da noite, Rivaldo Barbosa afirmou que a PM sabia desde sexta-feira que a reconstituição começaria às 15 horas. O delegado afirmou ter comunicado o major Edson Santos sobre esse horário.

Os policiais até poderiam deixar de participar da reconstituição, mas isso precisaria ser comunicado formalmente, o que não ocorreu. Ao longo da tarde, representantes do Ministério Público ameaçaram representar contra os policiais.

O desaparecimento de Amarildo completa 50 dias hoje. As câmeras da sede da UPP para onde o pedreiro foi levado não estavam funcionando e o GPS da viatura policial estava desligado.

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