O crime organizado criou um novo bico para os PMs de São Paulo: o de consultores de risco de ladrões. Nessa função, policiais fazem o papel de olheiros de quadrilhas especializadas em arrastões em condomínios e roubos de caixas eletrônicos. Usam o acesso aos equipamentos de rádio da PM para avisar os bandidos, por celular, quando algum policial fora do esquema se aproxima do prédio ou do banco durante a ação dos criminosos.
Neste ano, duas investigações já flagraram a participação de três policiais militares acusados de dar cobertura a ladrões durante os assaltos, mas existe a suspeita de que outros também estejam envolvidos. No ano passado, 20 PMs foram detidos por colaborar com quadrilhas que furtavam caixas eletrônicos – apenas dez continuam presos.
“O crime está apelando cada vez mais para a informação e depende, também cada vez mais, das dicas de quem está por dentro. É necessário fortalecer os grupos que combatem o crime organizado dentro das instituições policiais”, afirma o coordenador do Observatório de Segurança Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Julio de Mesquita Filho, Luís Antônio Francisco de Souza.
Desde 2008, a PM tem usado rádios comunicadores digitais, que dificilmente seriam interceptados por ladrões. Por isso, as quadrilhas passaram a cooptar PMs corruptos, que os mantêm informados sobre a movimentação policial. São eles que avisam os ladrões quando o roubo é descoberto porque um vizinho ligou para o 190, por exemplo. Também avaliam os riscos de um assalto ser malsucedido e alertam sobre o patrulhamento na área do roubo.
Um PM bem informado poupa o trabalho que caberia a pelo menos quatro bandidos: o de contenção durante uma fuga em que a polícia é alertada sobre a ação dos criminosos. Também sai mais barato, porque são três a menos para dividir o que foi roubado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.