Um esquema de adulteração de cargas de soja destinada à exportação pelo porto de Santos, que funcionava há meses no Estado de São Paulo, foi desmontado pela Polícia Civil, após a apreensão de três caminhões no porto de Santos e três em Salto Grande, no interior paulista. Os caminhões, que deveriam estar carregados com 200 toneladas de soja, estavam com apenas 20% da carga ocupada pelo grão, o volume restante era formado por milho e trigo de má qualidade.
Quatro pessoas foram presas e três empresários – donos de tradings, empresas compradoras e revendedores de grãos, em Santos, Ourinhos e Assis, tiveram a prisão pedida nesta sexta-feira, 7, pelo delegado João Beffa, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Ourinhos (SP). Havia seis meses que ele investigava a atuação da quadrilha, que pode ter desviado milhares de toneladas de soja no período. “Esses dias, 13 caminhões tiveram de retornar do porto de Santos porque a carga não foi aceita”, contou. “Infelizmente não apreenderam os carregamentos”, lamentou.
Na tarde de quinta-feira, 6, Beffa decidiu dar o flagrante, em uma operação realizada num posto, na rodovia Raposo Tavares (SP-270), onde três caminhões aguardavam para seguir viagem a Santos. “Quando abrimos, constatamos que apenas 20% da carga, que ficava por cima, era soja. O restante, embaixo, era milho e trigo de má qualidade, sem preço de mercado”, contou. “Mas sabemos que eles colocam outras coisas”, completou.
Com motoristas e um batedor foram apreendidos uma arma, munições e R$ 49,5 mil em dinheiro, que seriam usados para corromper funcionários do porto, como o conferente, que recebia R$ 1.500,00 para liberar a carga. “Empresários, donos de empresas de grãos, caminhoneiros, funcionários do porto de Santos, todos eles recebiam vantagens econômicas”, disse o delegado. Na sexta-feira, foi a vez de a polícia de Santos apreender outros três caminhões com carga semelhante.
De acordo com Beffa, o esquema não é restrito apenas ao interior de São Paulo. “Estamos recebendo ligações de diversos cantos do Brasil denunciando a adulteração. Uma das ligações informou até que soja queimada em um silo que pegou fogo está sendo usada no golpe”, contou. Segundo o delegado, a adulteração ocorre há muito tempo. “Estamos investigando há seis meses, mas temos informações seguras que este crime com certeza ocorre há mais tempo”, afirmou. O delegado disse que é possível que a adulteração também ocorra com outros produtos exportados pelo mesmo porto, mas não quis revelar quais.