Polícia frustra queima de arquivo

Belo Horizonte – Documentos contábeis da agência de publicidade DNA foram apreendidos ontem numa operação conjunta das polícias Civil e Federal e do Ministério Público em uma casa no bairro Flamengo, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A DNA tem como um dos sócios Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. A CPI Mista dos Correios aprovou a ida da senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) e dos deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Onix Lorenzoni (PFL-RS) a Belo Horizonte para acompanhar a investigação.

A operação era para cumprir mandado de prisão por homicídio contra o carcereiro aposentado da Polícia Civil Marco Túlio Prata, suspeito também de tráfico de armas. Os policiais, que tinham ainda um mandado de busca para apreensão de armas, encontraram dentro da casa granadas, grande quantidade de munição, explosivos e armas de uso exclusivo das Forças Armadas.

No quintal da casa, havia dois tonéis com documentos parcialmente queimados, que tinham o timbre da empresa DNA. Outras dez caixas com documentos da empresa, entre eles centenas de notas fiscais, foram encontradas durante a operação. Todo o material foi lacrado para perícia. Segundo os policiais, Marco Aurélio Prata, irmão do carcereiro, é um dos donos da empresa Prata Contabilidade, que presta serviços à DNA.

Marco Túlio Prata e o filho dele, Vinicius Prata Neto, foram presos e levados para a Corregedoria da Polícia Civil. Segundo os policiais, os dois estavam armados e resistiram à prisão, mas acabaram se entregando.

Fantasma

O ferroviário mineiro Jonas de Pinho morreu no dia 31 de dezembro de 1999, aos 81 anos, de choque séptico, pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica, como atesta a sua certidão de óbito. Porém, relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) entregue à CPI Mista dos Correios informa que, três anos e sete meses depois de sua morte, Jonas de Pinho aparece como responsável por um saque de R$ 152.875 da conta da agência SMP&B, do publicitário Marcos Valério, na agência Assembléia (Belo Horizonte) do Banco Rural.

A morte de Jonas foi comunicada no dia seguinte, 1 de janeiro de 2000, pelo securitário Carlos Augusto de Melo, ao cartório do 4.o subdistrito de Belo Horizonte, que expediu a certidão de óbito. Bancos de dados públicos confirmam a morte do ferroviário, cuja aposentadoria fora suspensa na data de sua morte, substituída por pensão paga até hoje a sua viúva, Marlene de Pinho.

Conta

O documento do Coaf, contudo, informa que, no dia 16 de julho de 2003, um cidadão que se apresentou como Jonas de Pinho forneceu o Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ferroviário (051297966-91) e sacou o dinheiro em espécie da conta da SMP&B (06002595-2). Como o valor era elevado, ele teve de declarar a razão do saque. Alegou que os recursos seriam destinados ?ao pagamento de folha de pessoal?. Curiosamente, a conta da agência de publicidade foi aberta no dia 31 de março de 2000, três meses depois da morte do ferroviário.

Publicitário convocado de novo

Belo Horizonte – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) dos Correios vai investigar a suspeita de que documentos de Jonas de Pinho foram usados em saques de dinheiro. O ferroviário deixou dois filhos, um deles também chamado Jonas, que trabalha na agência de publicidade mineira I-3. O senador Cesar Borges (PFL-BA), integrante da CPI Mista, disse que convocará Marcos Valério para explicar o saque feito por Jonas.

Procurada em sua residência, no bairro Aeronáutica, em Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, a viúva Marlene atendeu o interfone tentando se passar pela empregada doméstica e dizendo que a patroa não estava em casa, e que não sabia nada sobre a vida dela. Mas perguntada se poderia ir ao portão, se recusou e em seguida desligou o aparelho. Por telefone, o médico Hércules Mendes de Pinho, filho mais velho do ferroviário e que mora com a mãe, reagiu irritado: ?Se minha mãe tiver algum problema de saúde, vocês vão se ver comigo?, ameaçou. Perguntado sobre o irmão, Jonas, desligou o telefone. Na agência I-3 Publicidade, a secretária limitou-se a informar que Jonas estava viajando e não sabia precisar qual cargo ele ocupava na empresa.

A maioria dos nomes que aparecem como responsáveis por saques das contas da SMP&B e da DNA no Banco Rural, entre julho de 2003 e abril de 2004, é ligada a duas agências de publicidade de Marcos Valério, mas há pelo menos dois que estão vinculados a políticos: Benoni Nascimento de Moura e Walquíria de Oliveira Rios. Benoni, que sacou R$ 255 mil no dia 10 de setembro de 2004, trabalha na corretora de títulos paulista Bonus-Banval, que também emprega Michelle Janene, filha do deputado federal José Janene (PP-PR).

MG rompe com empresas de Valério

Belo Horizonte – O governo de Minas Gerais aceitou a recomendação do Ministério Público Estadual e vai suspender os contratos publicitários com as empresas do publicitário Marcos Valério, que está no centro das denúncias do suposto esquema de pagamento de mesada a deputados federais.

As agências de Valério, SMP&B e DNA, detêm mais de 50% das contas publicitárias do governo mineiro. O Departamento Jurídico do estado tem dez dias para estudar como essa suspensão será feita. Foi instaurado também um inquérito civil da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público para apurar possíveis irregularidades nos contratos feitos com as agências de Marcos Valério, bem como a movimentação financeira delas.

Quebra de sigilos

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) dos Correios aprovou ontem diversos requerimentos de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico. Entre eles, o do sócio do publicitário Marcos Valério de Souza, Cristiano de Mello Paz, e de funcionários de suas agências de publicidade, como as secretárias Adriana Fantini Martins e Geiza dos Santos. Foi solicitada ainda a quebra do sigilo bancário da conta-caixa de Marcos Valério no Banco Rural relativa aos últimos cinco anos.

A CPI Mista dos Correios também aprovou requerimento que solicita que o Banco do Brasil, o Banco Rural e o Banco de Minas Gerais apresentem todos os contratos firmados com partidos políticos.

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