Onze homens fortemente armados |
Brasília – A Polícia Federal apreendeu na manhã de ontem sete malas com dinheiro, num avião Cessna que aterrissou em Brasília. Na aeronave, que vinha de São Paulo, estava o deputado federal João Batista Ramos da Silva (PFL-SP), bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e presidente licenciado da Rede Mulher e Rede Família de Televisão, e mais seis pessoas.
Eles foram levados para a Superintendência da Polícia Federal. Em cada mala, a PF encontrou um papel impresso informando o valor transportado, mas até a noite de ontem a PF ainda não conferiu se o valor está correto. Para isso, estavam sendo usadas três máquinas contadoras de cédulas. Na ?bagagem?, o parlamentar poderia estar carregando cerca de R$ 10 milhões.
A Igreja Universal do Reino de Deus informou em nota oficial que todo o dinheiro apreendido pela PF é resultado de doações dos fiéis. O montante teria sido arrecadado nos templos de todo país após as comemorações dos 28 anos de existência da igreja. Todo o dinheiro, segundo o comunicado, serviria para o pagamento de despesas.
O senador Marcelo Crivella, um dos dirigentes da Universal, subiu à tribuna para defender a igreja. Diante dos demais senadores, garantiu que o dinheiro que estava no jato é fruto de dízimo dos fiéis. "Cada um dando R$ 5, só aí são R$ 2,5 milhões. Os valores (nas malas) são em notas pequenas. Os outros 25% são notas de R$ 50 e o restante, apenas 5%, em notas de R$ 100", disse. Crivella também isentou o deputado João Batista, que é pastor da Igreja Universal, de qualquer irregularidade na operação de transporte do dinheiro.
Na avaliação do senador, o dinheiro encontrado com o deputado João Batista ‘não tem nada a ver com dólar transportado na cueca’ – em referência ao dinheiro encontrado na última sexta-feira com José Adalberto Vieira da Silva, assessor parlamentar de José Nobre Guimarães, deputado estadual do PT no Ceará. O avião interceptado antes de levantar vôo está sendo adquirido por meio de leasing pela Igreja Universal do Reino de Deus. Por isso, a aeronave, de prefixo PRMJC, ainda está em nome da Cessna e a Universal consta como usuária nos documentos.
A Polícia Federal investiga a origem do dinheiro aprendido e se houve ilegalidade no transporte dos recursos. Agentes ressaltam que a Lei 9613/98, que trata de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, diz em seu artigo 1.º, inciso 6.º, que não se pode ocultar transações financeiras, mesmo no caso de entidades isentas de pagar impostos, como é o caso da Igreja Universal. Dentro das malas foi encontrado um papel com o nome de Belém, capital do Pará, que poderia ser o destino ou a origem do dinheiro.
Por volta das 16h, chegou à Superintendência da PF o consultor jurídico da Câmara dos Deputados, Marcos Vasconcelos. Ao chegar, ele disse que foi se inteirar da situação e, assim que levantar as informações, voltará à Câmara para relatar o fato ao presidente, Severino Cavalcanti. Também está na PF o advogado Sebastião Costa Val e um assessor parlamentar do deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP) de nome Paulo Fernando.
PF prende 11 homens armados
Brasília – Onze homens armados foram presos ontem, no estacionamento da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Eles estavam dentro de uma picape S-10 e de um Santana em nome da Igreja Universal do Reino de Deus. Portando fuzis, os agentes da PF cercaram os veículos e deram voz de prisão aos ocupantes dos dois carros. Os onze homens não reagiram, foram desarmados e em seguida foram levados para a Superintendência. Alguns deles disseram que estavam prestando serviço de segurança, sem especificar a quem. De acordo com a PF, as placas da picape e do Santana são frias.
A PF informou que percebeu ao longo do dia a movimentação de pessoas estranhas nas imediações da Superintendência e que consultou órgãos de inteligência, como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Militar do Distrito Federal para saber se havia alguma operação nas imediações. A resposta dos demais órgãos foi negativa e a PF suspeitou que pudesse se tratar de tentativa de assalto.
Afastamento
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), convocou a Comissão Executiva Nacional do partido para reunião na manhã de hoje para examinar o caso. João Batista Ramos da Silva teria dito na Polícia Federal que os recursos são da Igreja Universal do Reino de Deus.
O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), disse ontem que pediu ao presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), para afastar imediatamente o deputado João Batista. De acordo com Aleluia, o parlamentar deve ficar fora do partido até que seja explicada a origem desse dinheiro.