Polícia Federal desmonta quadrilha de traficantes

São Paulo – A Polícia Federal deflagrou ontem a ?Operação Tâmara? para desmontar uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de entorpecentes, cuja maioria dos membros tem origem árabe. O grupo atua na América do Sul e Europa, e é acusado de enviar em média 60 quilos de cocaína quinzenalmente para países europeus e do Oriente Médio, a partir do Brasil. A ação contou com a cooperação da Polícia Federal da Alemanha e o DEA (Drug Enforcement Administration), a agência antidrogas dos Estados Unidos. Os acusados responderão pelos crimes de tráfico internacional de entorpecentes, associação para o tráfico, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Cerca de 200 policiais federais cumpriram mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, todos expedidos pela 9.ª Vara Criminal Federal de São Paulo. O Supremo Tribunal Federal (STF) também expediu mandados de prisão preventiva para extradição de alguns membros da organização criminosa, a pedido do governo alemão.

A prisão de cidadãos norte-americanos envolvidos com o tráfico internacional de drogas na cidade de Istambul (Turquia), na terça-feira, iniciou a investigação internacional. Os americanos identificados como Alexander Czimback, Suzanne Lutz e Shelly Lantz foram presos com aproximadamente 25 quilos de cocaína quando desembarcaram naquele país em vôo procedente de São Paulo (SP).

Segundo as investigações, iniciadas pela PF no Brasil em 2004, a cocaína vinha do Paraguai e Bolívia, e entrava em território brasileiro pela região da tríplice fronteira, principalmente pelas cidades paraguaias divisas com a região de Foz do Iguaçu (PR) e Ponta Porã (MS). O esquema funcionava através da cooptação de pessoas para transportar a droga para o exterior, as chamadas ?mulas?. Os principais destinos eram Frankfurt, na Alemanha, Lisboa (Portugal), e países do Oriente Médio. Eram usados os aeroportos do Rio de Janeiro e São Paulo, além de Salvador e Pernambuco.

Os responsáveis pelo gerenciamento de todo o esquema se organizavam em três grandes núcleos familiares, que envolvem cerca de 15 pessoas. Eles não participam diretamente do transporte da droga, mas organizam e financiam o narcotráfico em diversos países. O transporte era feito em malas, ou mesmo dentro do corpo das ?mulas?, que engoliam cápsulas de cocaína. Brasileiros, holandeses, canadenses, nigerianos e sul-africanos seriam os principais responsáveis por este serviço.

Sete ?mulas? foram presas em flagrante, desde o ano passado, tentando embarcar com quantidades variadas de droga. Cada quilo de cocaína é comercializado no exterior por cerca de 3 mil dólares. Segundo as investigações, a lavagem do dinheiro era feita principalmente por meio da compra de imóveis e carros importados, sempre pagos em dinheiro, e em nome de ?laranjas?.

Durante as investigações, algumas conversas interceptadas por meio de autorização judicial eram feitas em árabe, o que exigiu o uso de tradutores. Segundo o delegado Júlio Bortolato, da Polícia Federal, a ?repressão ao tráfico como delito transnacional não seria possível sem essa cooperação internacional, que é essencial no combate ao crime?.

Libanês preso com vários documentos falsos

Foz do Iguaçu – No desenrolar da Operação Tâmara, policiais federais da delegacia em Foz do Iguaçu prenderam, na manhã de ontem, o libanês Hassan Diab Chams. Ele foi preso no apartamento 501 da Rua Manuel Rodrigues Filho, 41, por força de mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal para fins de extradição. O mandado n.º 500, assinado pelo ministro Joaquim Barbosa, foi solicitado pelo governo alemão, por tráfico internacional de entorpecente. Quando os agentes foram cumprir o mandado, encontraram um quilo de cocaína pura em poder de Hassan. Caso batizada, a droga alcançaria até 5 quilos.

Hassan tinha ainda em seu poder diversos documentos falsos, entre eles passaporte brasileiro com sua foto e o nome de José Robson Alencar da Silva, como nascido em São José de Paranhos (PB); carteira de motorista expedida pelo Detran/SP; passaporte, carteira de identidade e titulo de eleitor colombiano em seu próprio nome, pedido de permanência no País com base em filho brasileiro; e passaporte de Christofer Alexander Pfeffer. Além de tais documentos, foram encontrados um espelho de identidade, preenchido em nome de Juliana Monesso, sem foto e assinatura (para uso de ?mulas?), e CPF em mesmo nome. Também foi apreendida uma máquina para preenchimento de cartão de crédito Visa.

Junto com Hassan, estavam no apartamento os libaneses Abbas Mohammad Ahmad, 37, e Ali Hassan Chams, 27, que serão também investigados para saber se participam do tráfico internacional.

Perfil dos envolvidos

Originários dos arredores da cidade de Hezzerta, no Líbano, os envolvidos com a quadrilha de narcotráfico possuem também laços familiares.

Os investigados, na faixa etária compreendida entre os trinta e quarenta e cinco anos, pertencentes às famílias Kassem, Chams, Diab, Ahmad e Handan, saíram do Líbano na década de oitenta, fruto da diáspora ocasionada pela guerra civil libanesa. Os emigrados foram inicialmente para Brasil e Suíça, e destes países para a Alemanha.

Na Suíça, segundo fontes alemãs, no início da década de 90, ocorreram as primeiras prisões de aparentados dos investigados por tráfico de cocaína; ao mesmo tempo o grupo começa a se estender para a Alemanha, onde vai residir principalmente nas cidades de Dusseldorf e Berlim.

A polícia alemã, já em 2002, durante conferência realizada pela Interpol em Lyon (França), comunicou à Polícia Federal do Brasil detecção de remessas de cocaína para a Europa a partir do Brasil, e da possibilidade de tais remessas estarem sendo feitas a partir de ações organizadas e não dispersas. Em dezembro último, a polícia alemã encaminhou mais informações sobre o grupo investigado, estabelecendo uma intensa cooperação na investigação em curso, até pela existência de processos judiciais que envolvem a grande maioria dos investigados, que motivaram a Operação Tâmara.

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