A tentativa de extorsão contra o vice-presidente da República, José Alencar, em abril, revelou detalhes do funcionamento do crime conhecido como “Disque-extorsão” no sistema penitenciário do Rio de Janeiro. Segundo testemunhas ouvidas pela Delegacia Anti-Sequestro (DAS), no presídio de onde partiu a ligação para José Alencar, agentes penitenciários recebem propinas que podem chegar a R$ 600 para facilitar a entrada de chips e celulares.
Na mesma unidade, o esquema é tão sistematizado que um preso chegou a criar uma conta bancária para o depósito de todas as extorsões. Como uma espécie de “taxa de administração”, ele recolhe 15% de todos os depósitos. As revelações foram feitas em um inquérito que correu sob sigilo, na DAS. O objetivo era investigar uma outra extorsão, ocorrida três dias depois da sofrida por Alencar, por um casal de idosos, em Riachuelo, zona norte. De acordo com testemunhas, o bando que tentou extorquir dinheiro do vice-presidente já comprou carros, motos e até imóveis com as ameaças por telefone.
“O preso que pratica um crime dentro da cadeia e consegue adquirir um benefício patrimonial tem de depositar integralmente a quantia na conta de um dos presos que pertencem à facção Terceiro Comando. Este retira 15% e o restante entrega na mão do preso”, disse uma das testemunhas, no inquérito, completando: “Diante do esquema tão rendoso (sic), tem preso que não tem interesse em sair do sistema, já que destes 15% conseguem comprar carros, motos e até apartamentos.”
Os nomes das testemunhas não foram revelados para preservá-las. Por ordem da Justiça, elas foram colocadas sob proteção. Três pessoas tiveram a prisão decretada pelo crime contra o casal de idosos, duas já estavam presas na carceragem de onde teria partido a ligação para Alencar.