Pobreza leva um terço das crianças em SP para abrigos

Das crianças e jovens em abrigos na cidade de São Paulo, um terço vive nesses locais porque os pais estão desempregados ou por falta de moradia para a família. São meninos e meninas que passaram por situações de carência e negligência, vivem meses ou anos sob os cuidados do Estado, mas têm mães que os visitam e que gostariam de, algum dia, levá-los para casa.

Essas mães, por sua vez, são oriundas das camadas mais pobres da população – geralmente não têm mais vínculo com o pai das crianças, engravidam de outros parceiros, vivem de casa em casa e alternam desemprego com trabalhos precários e instáveis. Em um ciclo que se repete, 40% delas já foram abrigadas quando mais jovem ou tiveram algum parente próximo nessa condição.

O retrato dessas famílias foi traçado pela primeira vez em um trabalho feito pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente da PUC-SP, Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos sobre Crianças e Adolescentes e Universidade Cruzeiro do Sul, com apoio do Tribunal de Justiça de SP e do Ministério do Desenvolvimento Social. Entre 2007 e 2008, por intermédio dos próprios abrigos, nome dado aos antigos orfanatos, os pesquisadores traçaram o perfil e a história de uma amostra de 97 famílias que mantêm vínculos com os filhos. Do total de 4,8 mil crianças e adolescentes que vivem em abrigos na capital, 67% têm famílias.

“A pobreza está na base de grande parte dos abrigamentos. É falta de onde morar, de onde deixar a criança enquanto procura trabalho, de como se manter, tudo isso em um ambiente permeado pela violência nas relações”, afirma Eunice Fávero, professora da Universidade Cruzeiro do Sul e uma das autoras da pesquisa. Segundo ela, sem entender essas famílias, é impossível traçar políticas públicas que cortem esse ciclo de pobreza e abandono.

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