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PMs recebiam propina para vazar informações para traficantes

Uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Corregedoria da Polícia Militar prendeu, nesta terça-feira, 14, 32 policiais militares suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas na região de Campinas, interior de São Paulo. Conforme o Gaeco, a investigação apurou que eles recebiam pagamentos de R$ 100 a R$ 300 para vazar informações sobre as operações policiais de combate ao tráfico. Eles também deixavam de efetuar prisão de traficantes ligados ao esquema. Quatro civis envolvidos nos crimes também foram presos.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que, se comprovado o envolvimento, os policiais presos podem ser expulsos. “A SSP não compactua com desvios de conduta por parte de seus integrantes. Os 32 policiais presos preventivamente estão sujeitos, na espera administrativa, a sanções que podem chegar à expulsão”, informou, em nota.

Segundo o coronel Marcelino Fernandes da Silva, da corregedoria da PM, os valores da propina variavam conforme a graduação do policial envolvido. Enquanto um soldado, por exemplo, recebia R$ 100 pela informação, ao sargento eram pagos R$ 300. Os valores mensais movimentados pelo esquema chegavam a R$ 150 mil.

O grupo, lotado na 5.ª Companhia do 47.º Batalhão de Campinas, atuava principalmente no Parque Industrial e na região conhecida como ‘Toca da Raposa’, na Vila Boa Vista. O grande número de policiais presos chegou a desfalcar a unidade.

Entre os presos civis estão um homem e uma mulher que lideravam a organização. A mulher assumiu o lugar de outro líder preso na fase de investigação. Já o civil fazia a contabilidade e distribuição do dinheiro pago pelo tráfico.

Os 42 mandados de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça Militar e pelo juiz Nelson Augusto Bernardes de Souza, da 3ª Vara Criminal de Campinas. Embora o esquema operasse apenas nessa cidade, as ordens de busca foram cumpridas também em Sumaré, Mogi Mirim, Hortolândia, Bauru, Sorocaba e São Carlos, onde ficam as residências dos envolvidos.

As prisões são temporárias. A Justiça decretou sigilo nas investigações e a reportagem não teve acesso aos nomes dos advogados que acompanharam as prisões. Os suspeitos vão responder por crimes de tráfico de drogas, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A Operação ‘Tio Genésio’ teve o apoio do 2º e 3º Batalhões de Polícia de Choque e do Canil de Campinas. Participaram da ação 320 policiais militares e 100 viaturas.

Investigação

Segundo o promotor José Claudio Baglio, do Gaeco, a investigação foi iniciada pela própria Polícia Militar. De acordo com ele, o comandante do Comando de Policiamento do Interior (CPI 2) de Campinas, recebeu informações sobre possíveis irregularidades no 47º Batalhão e acionou a corregedoria da PM. “Foram constatados indícios de uma organização criminosa envolvendo civis que ofereciam propina aos policiais para acobertar o tráfico”, disse.

O promotor destacou que a corregedoria da PM providenciou os mandados para a prisão dos militares envolvidos. Para evitar eventual vazamento da operação, a tarefa de prender os suspeitos foi repassada ao Batalhão de Choque da capital, que trabalhou em conjunto com o batalhão de Campinas.

Dos 32 mandados expedidos contra policiais, todos foram cumpridos, tendo sido preso inclusive um policial afastado da corporação por conduta irregular. Entre os presos, três são sargentos. Todos passaram por exames de corpo de delito e foram levados para o Presídio Militar Romão Gomes, na capital.

Quatro civis foram presos nesta terça-feira – outros dois haviam sido presos durante a investigação. Há ainda dois suspeitos foragidos. Durante as buscas, foram apreendidos um carro, equipamentos eletrônicos, armas com numeração raspada, drogas e R$ 23 mil. Segundo a SSP, sete traficantes também foram presos.

De acordo com o promotor, documentos e cadernos de anotações também apreendidos serão analisados durante a sequência das investigações, que podem levar à prisão de outros civis. Não está descartada possível ligação dos traficantes com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Como a investigação está em sigilo, não foram revelados detalhes do esquema criminoso. O nome dado à operação – ‘Tio Genésio’ – refere-se à forma como os envolvidos se tratavam entre si.

Ainda segundo a SSP, a reposição do efetivo do 47.o Batalhão de Campinas será feita “de acordo com as questões e parâmetros técnicos e estratégicos do comando da instituição”.

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