Brasília – Apesar de ter ultrapassado a capacidade de endividamento, alguns prefeitos estão conseguindo empréstimos. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, é um desses casos. Ela admite publicamente o desrespeito aos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e ainda assim tem revelado talento na captação de recursos em Brasília.
Ao contrário de prefeitos da oposição, como César Maia (PFL), do Rio de Janeiro, Marta obteve só este ano mais de R$ 800 milhões em apenas dois empréstimos, apesar de ter uma dívida de R$ 27 bilhões. Os recursos saíram do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), que emprestou R$ 493,8 milhões, e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do qual a prefeita obteve US$ 100,4 milhões (cerca de R$ 313 milhões).
A prefeita conseguiu o aval do Tesouro Nacional. Também obteve a aprovação dos empréstimos pelo Senado Federal, se valendo de uma excepcionalidade prevista em resolução daquela Casa, embora parecer técnico tenha desaconselhado as operações, alertando para o descumprimento da LRF. O BNDES e a Caixa Econômica Federal (CEF) manifestaram a mesma boa vontade e deram a sua contribuição para obras da prefeitura de São Paulo.
Graças ao reforço de caixa, Marta engordou o orçamento de obras em R$ 1 bilhão em relação ao ano passado. Neste ano eleitoral, terá R$ 2,6 bilhões para investir. A prefeitura obteve financiamento da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 20 milhões para a recuperação de oito imóveis no centro de São Paulo. Os recursos saídos do BNDES serão aplicados no sistema integrado de transporte urbano, um dos principais projetos da prefeitura de São Paulo. Os outros R$ 313 milhões, liberados em três anos, serão investidos na revitalização do centro da cidade.
No Rio, o pefelista César Maia não teve a mesma sorte. Em Brasília, esbarrou numa condição que considerou inaceitável. Para avalizar um empréstimo de US$ 60 milhões já aprovado pelo Banco Mundial (Bird), a Secretaria do Tesouro Nacional exigiu que a prefeitura depositasse em sua conta o correspondente a 50% do valor, por meio da compra de títulos públicos.
Para garantir a realização do programa nos próximos três meses, durante a campanha eleitoral, a prefeitura do Rio precisaria obter autorização para o convênio, com prévia aprovação no Senado, até sexta-feira. O programa Rio Criança Maravilhosa ficará para depois de outubro.
Ao contrário dos prefeitos de Florianópolis, Ângela Amin (PP), Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL), Recife, João Paulo (PT), que conseguiram empréstimos bem menos vultosos, Marta Suplicy conseguiu reforçar o seu caixa com novos empréstimos e deixou o problema da dívida para a próxima gestão. Ou seja, empurrou com a barriga.
Marta faz pouco com muito dinheiro
São Paulo
– Em sua primeira entrevista, depois de ter sua candidatura a prefeito de São Paulo homologada em convenção municipal do PSDB, o ex-ministro José Serra atacou ontem a gestão da prefeita Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição e sua principal adversária. “A atual administração se caracteriza em arrecadar muito e por gastar muito, fazendo pouco em relação ao que arrecada”, disse Serra, que também anunciou a intenção, se eleito, de “acabar com o empreguismo na Prefeitura paulistana.Segundo ele, o orçamento da Prefeitura foi inflado com gastos de mais de R$ 100 milhões na contratação de assessores especiais. Serra ressaltou que pretende “governar São Paulo por quatro anos”, descartando a hipótese de sair candidato a governador em 2006, por exemplo. Ele também descartou a possibilidade de “federalizar” o debate sucessório municipal, afirmando que deverá se concentrar em temas relacionados com a cidade de São Paulo.
Entre as prioridades de campanha e governo, ele destacou a educação e a saúde. Quanto à Sabesp, ele disse que não tem interesse em trabalhar por uma eventual municipalização da companhia, mas sim promover uma cooperação maior entre Prefeitura e estado em matéria de saneamento, assim como nas demais áreas.
Ele ressaltou que jamais se manifestou contra a escolha do seu companheiro de chapa, o deputado federal Gilberto Kassab (PFL-SP), cuja candidatura a vice-prefeito também foi homologada.
Lula nega. Mas está em campanha
Brasília – Ao contrário do que as cúpulas do PT e do governo vêm anunciando, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está participando das articulações para ajudar os candidatos da base governista. Ele não deve ir a comícios, não participará de carreatas, nem subirá em palanques dos candidatos aliados. Nos bastidores, no entanto, o presidente trabalha arduamente para conquistar adesões dos partidos governistas aos candidatos petistas, tentando aumentar as chances de vitória do PT em cidades estratégicas.
Em público, Lula não esconde sua preferência eleitoral: rasgou elogios para a prefeita Marta Suplicy, candidata à reeleição em São Paulo, e participou de atos do governo federal ao lado de candidatos petistas. Em outra ponta, a máquina do governo trata muito bem os pré-candidatos governistas, sobretudo com liberação de verbas para seus municípios. “Mas, onde o Lula for, onde o governo federal for, o PT vai estar junto”, disse o presidente do PT, José Genoino. Segundo ele, não há restrições do Palácio do Planalto para que os candidatos aliados usem imagens e discursos do presidente nas suas campanhas.
A atuação de Lula nos bastidores rendeu adesões importantes a candidatos petistas em cidades estratégicas para o partido. Há dez dias, Lula pediu apoio à prefeita Marta Suplicy ao presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson. Um dia depois, o PTB aderiu à candidatura de Marta.
Mas o presidente poderá ter frustrações justamente em seu berço político, onde foi vitorioso nas últimas eleições para a presidência da República. No ABC paulista, região onde o partido nasceu após as greves de metalúrgicos nos anos 70s, os petistas que concorrerão às prefeituras de São Bernardo e Santo André têm dificuldades para formar coligações, enfrentam resistência para compor chapas puras e não disparam nas primeiras pesquisas de intenção de voto.
Em São Bernardo do Campo, onde mora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT tem encontrado problemas para conseguir apoio de outras legendas à candidatura do deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, uma das apostas de Lula para administrar a cidade. Nos anos 80, Vicentinho foi o sucessor de Lula na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ele tem hoje o apoio do PMDB, que lhe deu o candidato a vice, o vereador Tunico Vieira, do PCdoB, do PTB e do PSC. Já seu principal adversário, o atual prefeito William Dib, do PSB, reúne em torno de sua campanha 21 partidos, inclusive o PL, que também é da base do governo Lula. Ainda assim, Vicentinho mostra-se animado:
Perguntado se não está preocupado com a influência do desgaste do governo federal em sua campanha, principalmente após a derrota no Senado da proposta do salário mínimo, Vicentinho diz que projetos de geração de emprego na região vão superar questões que o PT enfrenta em âmbito nacional.
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