Se há uma palavra que resume bem a situação dos aeroportos brasileiros, no horário entre as 20 horas e as 21 horas, é “paciência”. Muita paciência. Por causa da infraestrutura deficiente dos aeroportos brasileiros e da distribuição da malha aérea, esse é de longe o pior horário para viajar no País. Segundo levantamento feito com exclusividade pelo Estado, com base em dados oficiais, esse período compreende 80% dos voos que mais atrasam em todo o território brasileiro.
Dos 20 voos que recorrentemente saem fora do horário, 16 estavam previstos para sair nessa parte da noite. Para chegar aos números inéditos, a reportagem cruzou tabelas oficiais de todos os 4.022 voos que atrasaram no País nos meses de abril e maio com as listagens dos Horários de Transporte (chamado tecnicamente de Hotran) definidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em números, esse também é o horário que concentra a maior parte das decolagens atrasadas. Do total de voos analisados, cerca de 66,6% deveriam ter decolado entre as 20 e as 21 horas. Para efeito de comparação, o segundo período mais complicado foi o das 23 horas, com 5,5% dos atrasos. O tempo médio de atraso no horário de pico foi de 1 hora e 5 minutos.
Hábitos. Muita gente já sentiu na pele as dificuldades de viajar por volta das 20 horas – e tem até quem já tenha mudado hábitos para evitar a espera de uma ou duas horas a mais no aeroporto. O consultor Bruno Souza, de 27 anos, por exemplo, fez exatamente isso.
Ele mora em Brasília e viaja frequentemente para São Paulo e Rio de Janeiro a negócios. No ano passado, pegou um voo para Congonhas programado para sair por volta das 20h10. O avião decolou com mais de uma hora de atraso e, quando chegou a São Paulo, o aeroporto já estava fechado. “Tive de descer em Guarulhos, peguei um ônibus para Congonhas e só aí tomei um táxi e segui para o meu hotel”, conta.
Dor de cabeça
Depois disso, Bruno e outros funcionários da empresa de tecnologia onde trabalha passaram a chegar um dia antes ou sair um dia depois para evitar viajar de avião entre as 20 e as 21 horas – mesmo tendo de pagar uma noite de hotel para isso. “Nem marcamos mais nesse horário. É pedir para ter dor de cabeça”, resume.
O jogador de pôquer Guilherme Kalil, de 34 anos, teve problemas nesse mesmo horário na última segunda-feira. Ele voltava de um torneio de cartas em Porto Alegre e precisou fazer conexão no Aeroporto de Cumbica, onde teve de esperar mais de cinco horas até que seu voo para Belo Horizonte decolasse.
“Não deram explicações nem nada. Mas pelo menos pagaram a refeição em um ótimo restaurante no aeroporto”, diz Kalil, conformado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.