Petistas admitem erros e excessos

Brasília

  – Não foram necessários nem mesmo cem dias de governo para que petistas da cúpula do partido e do governo Lula fizessem mea-culpa, admitindo erros e excessos na atuação como oposição ao governo Fernando Henrique e recorrendo a medidas que criticaram duramente nos últimos anos. O PT, desde a posse, já aumentou os juros duas vezes, alcançou um superávit primário acima do previsto cortando gastos e investimentos, concedeu aumento modesto para o salário-mínimo e avisou aos servidores públicos que a reposição das perdas salariais ficará para depois.

Ministros como o da Fazenda, Antônio Palocci, e da Previdência, Ricardo Berzoini, repetem nos diferentes embates com os adversários: não há problema algum em reconhecer erros da vida política ou pessoal. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), chegou a afirmar que a reforma da Previdência não foi aprovada no governo passado por pura disputa política da oposição. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também admitiu, em pelo menos duas ocasiões, que o PT errou ao não apoiar as reformas no governo FH. Ele não aceita, porém, a responsabilidade pela não-aprovação delas.

” A reforma da Previdência não foi aprovada porque o presidente Fernando Henrique não conseguiu convencer sua base. Nós éramos minoria” tem reiterado o líder.

Para o senador tucano Romero Jucá (RR), o PT tem feito mea-culpa para ter condições morais de defender e votar mudanças que sempre criticou:

” O governo está descobrindo o quanto é difícil ser governo e jogar com as limitações da realidade operacional. Quando se é oposição, joga-se com os sonhos” disse.

O presidente do PPS, Roberto Freire (PE), faz uma análise histórica da trajetória do PT e comemora o que considera uma revisão. Freire afirma que quando o socialismo começou a ser questionado mundialmente, a posição do PT era de uma esquerda avançada e democrática e que só mais tarde o PCB, hoje PPS, fez autocrítica: ” Mas depois o PT acabou rendendo-se ao corporativismo e ao radicalismo que agora está tendo que coibir”.

Para o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), o PT está sendo obrigado a rever posições corporativas, mas não é justo dizer, por exemplo, que é novidade o partido defender a autonomia do Banco Central. Ele lembra o voto favorável à autonomia do BC na Constituinte. O petista mineiro, um dos fundadores do partido, admite que o PT errou ao defender em 1988 cinco anos a menos para o tempo de serviço mínimo para a aposentadoria, aprovado pelo Congresso. Ele conta que Lula, então líder da bancada, não deixou escapar o desconforto:

” Vocês têm certeza que não vamos ser governo nunca?” disse Lula, voto vencido na bancada. Virgilio diz que o PT está tendo que rever suas posições sobre a CPMF, a questão da idade da aposentadoria e a jornada de trabalho de 40 horas.

Jogo duro contra os rebeldes

Brasilia

(AG) – As trombadas iniciais na articulação política do governo no Congresso levaram o comando político do Planalto a jogar pesado para acabar com a rebeldia de um grupo de petistas que ameaçava ir contra as propostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a política econômica do ministro Antônio Palocci. Ameaçando de expulsão os dissidentes, o PT e o governo conseguiram a rendição dos rebeldes e avançaram na conquista de apoios dentro e fora da base governista, como no PFL, no PSDB, no PPB e no PMDB para aprovação, semana passada, da emenda do ex-senador José Serra (PSDB-SP) sobre o sistema financeiro.

Com apoio da oposição, o governo mostrou força no Congresso conseguindo 442 votos para a aprovação da emenda. Para isso, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, deu plantão no Congresso e, na véspera, chegou a dizer que mudaria de nome se não conseguisse 400 votos. Não precisou. Agradeceu ao PSDB e ao PFL pelo apoio, dizendo que a votação mostra que há clima para a aprovação das reformas da Previdência e tributária.

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