Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão temporariamente impedidos de publicar trabalhos em uma das principais revistas de endocrinologia do mundo, a Diabetes, até que uma disputa envolvendo um renomado cientista da instituição seja resolvida.
O médico Mário Saad, ex-diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e candidato a reitor em 2013, teve dois de seus trabalhos colocados sob suspeita em abril de 2014 pela revista, que pediu à universidade que investigasse o caso, envolvendo supostas duplicações e manipulações de imagens. A reitoria realizou uma sindicância que identificou problemas editoriais no trabalhos, mas inocentou Saad e seu grupo de qualquer suspeita de má conduta.
Não satisfeita com o parecer, a Associação Americana de Diabetes (ADA, em inglês), que publica a revista, pediu uma nova investigação em dezembro e aumentou a lista dos trabalhos de Saad sob suspeita para quatro. A reitoria da Unicamp, então, instaurou nova sindicância.
A expectativa é de que a nova investigação seja concluída na primeira quinzena de março, mas a ADA se adiantou e publicou em seu site, em 2 de fevereiro, uma “nota de preocupação” sobre a possibilidade de haver imagens duplicadas ou manipuladas nos trabalhos e de virem a ter a publicação anulada. Anunciou à Unicamp ainda que não aceitaria trabalhos de pesquisadores da universidade até que a situação seja resolvida.
“A universidade não concorda com essa atitude da revista, uma vez que a sindicância interna ainda não foi concluída”, disse a reitoria, em nota.
Saad abriu um processo judicial contra a ADA neste mês, para retirar a “nota de preocupação” do ar e evitar a retratação dos artigos. “Estou defendendo minha honra, para provar que sou uma pessoa íntegra. Não posso deixar que meu nome seja sujado dessa maneira”, disse Saad ao Estado, ontem (13).
As suspeitas foram levantadas por “leitores”, segundo a Diabetes. Os trabalhos foram publicados entre 1997 e 2011, relacionados ao metabolismo de insulina, e os questionamentos referem-se a imagens de uma técnica chamada eletroforese em gel, usada para separar e pesar moléculas em laboratório.
De acordo com Saad, há de fato uma imagem duplicada em um dos trabalhos, resultante de um erro de edição na montagem do artigo. “Tenho de admitir que o erro passou por várias mãos e ninguém viu.” O fato de a imagem estar repetida, porém, não tem efeito sobre o resultado da pesquisa, segundo ele.
Os outros problemas apontados, segundo ele, referem-se à prática comum de cortar e juntar pedaços de um mesmo gel para compor uma imagem, sem adulteração dos dados.
“A Diabetes tomará decisões finais sobre esses artigos depois de obter mais informações sobre a confiabilidade dos dados”, disse a revista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.