Pesquisa sobre malária usou cobaias humanas

O senador Cristovam Buarque, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, classificou como ?tortura? o que os ribeirinhos da comunidade de São Raimundo do Pirativa, no Amapá, sofreram ao serem usados como cobaias numa pesquisa sobre a malária financiada pela Universidade da Flórida (EUA) e tendo como parceiros a Fundação Oswaldo Cruz, governo do Amapá, Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Buarque esteve ontem na comunidade conversando com os ribeirinhos e constatou que eles foram usados como cobaias em troca do pagamento de diárias de R$ 12. De acordo com Sidney Siqueira, agente de saúde voluntário daquela comunidade, no início da pesquisa o ?trabalho? deles consistia apenas em coletar mosquitos em um copo. Mais tarde foram convocados a alimentar estes mosquitos. O copo, com cem mosquitos, era emborcado nas pernas ou braços das cobaias. ?O trabalho começava às 18h, mas não tinha hora pra terminar?, disse ele. Para aliviar o incômodo, a coceira e a dor após as picadas, os ribeirinhos se jogavam no rio. Por causa da experiência vários deles contraíram malária e, segundo eles, não receberam o tratamento médico prometido pelos pesquisadores.

O senador classificou de ?irresponsável, imoral e anti-ético? o uso de cobaias humanas. Disse também que outro fato muito grave foi fazer pessoas que praticamente não sabem ler assinar um documento autorizando o uso de seus corpos na pesquisa. Mas ressaltou que não houve dolo na autorização da pesquisa porque o projeto não previa o uso de cobaias humanas. Segundo Buarque, o grande erro dos órgãos que autorizaram a pesquisa e dos parceiros foi não ter fiscalizado a execução do projeto, ou seja, aprovaram o que estava no papel e não se importaram em fiscalizar se a pesquisa estava sendo desenvolvida conforme o projeto aprovado. O senador Cristovam Buarque diz que é provável que outras pesquisas utilizando cobaias humanas estejam sendo feitas no País.

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