Uma dieta pobre em proteína torna mulheres mais vulneráveis a infecções e teria contribuído para o nascimento de bebês com microcefalia na epidemia de zika no Brasil, em 2016. A correlação é feita por um grupo internacional de cientistas que assina novo estudo na revista Science Advance.
A hipótese foi testada originalmente em camundongos. O trabalho, feito na Universidade Federal do Rio (UFRJ), revelou que entre as roedoras infectadas por zika só as que tinham déficit proteico significativo na alimentação tiveram filhotes com microcefalia. Dados epidemiológicos confirmaram a tendência também em humanos.
“Eles se tornaram muito mais suscetíveis à infecção, apresentavam carga viral maior e, além disso, vimos que o vírus causava alteração placentária muito maior do que a do animal controle. Essa barreira (a placenta) foi totalmente destruída”, diz Patrícia Garcez, da UFRJ, uma das principais autoras.
Os cientistas entrevistaram mulheres que tiveram bebês com microcefalia para determinar seus hábitos alimentares. Dados epidemiológicos revelaram que uma taxa alta (40%) de mães que tiveram filhos com a síndrome congênita da zika também apresentavam desnutrição proteica. Foram ouvidas 83 mulheres no Ceará.
Em países desenvolvidos como os Estados Unidos, a transmissão vertical do vírus (mãe para filho) é de menos de 1%. No Brasil, na epidemia de zika, essa taxa chegou a 43%, com a maioria dos casos no Nordeste.
A alimentação rica em carboidratos e pobre em proteínas é comum nas áreas mais pobres do País. Em número de calorias, a dieta pode estar no padrão recomendado. O indivíduo pode até não ser magro; pelo contrário, tende ao sobrepeso. Mas a carência de alimentos ricos em proteínas (mais caras que os carboidratos) leva a uma deficiência do sistema imunológico, facilitando a infecção e a transmissão do vírus ao feto.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que um adulto coma 60 gramas diárias de proteína – um bife médio tem 30 gramas e um ovo, sete. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.