A cocaína é o novo “rebite” dos caminhoneiros. Pesquisa divulgada ontem pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) aponta que a droga vem sendo usada no lugar das anfetaminas para manter os motoristas acordados por mais tempo.
Entre os entrevistados, o consumo foi até quatro vezes maior do que o identificado na população brasileira. O levantamento ouviu aleatoriamente 308 motoristas que circulavam por quatro rodovias federais no Rio de Janeiro e São Paulo e constatou que 3,5% deles haviam usado cocaína.
A urina foi analisada e os dados mais alarmantes foram encontrados na Fernão Dias, região de Atibaia, interior de São Paulo: 4,5% dos caminhoneiros abordados haviam consumido cocaína.
“É evidente que esse motorista vai colocar em risco a vida de outras pessoas”, afirma a médica Vilma Leyton, coordenadora da pesquisa da USP. A cocaína e a anfetamina atuam no sistema nervoso central, alterando a percepção do motorista, reduzindo a atenção e os reflexos.
Para Flávio Pechansky, pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Trânsito e Álcool da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o consumo de cocaína entre caminhoneiros é ainda mais grave porque esses condutores passam 70% do tempo nas estradas. “Ele faz coisas que não faria se estivesse sóbrio, age impulsivamente.”
A substituição da anfetamina pela cocaína tem explicações na estratégia do tráfico. “Os caminhoneiros são iludidos pelas promessas dos efeitos mais fortes da cocaína do que do ‘rebite’, que dizem deixar a pessoa acordada por mais tempo”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga, Newton Gibson. A droga é apresentada como fórmula para fazer com que 90 horas dirigindo pareçam mais curtas.
Carga horária
A carga horária excessiva é criticada pelo diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Alberto Sabaag. “Prefiro que ele consuma alguma substância e chegue vivo, do que durma ao volante.”
Marcelo Pereira, consultor da Associação Brasileira de Educação no Trânsito, cita as características da profissão como outro fator para o vício. “Caminhoneiro vive sozinho, não consegue participar da vida familiar. Isso os deixa mais vulneráveis à sedução da droga.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.