Membros das antigas cooperativas de lotações de São Paulo relatam rotinas de extorsão e ameaças praticadas pelos diretores das novas empresas de transporte de São Paulo. Os casos vão desde falta de pagamento a pressões para que as lotações sejam vendidas para as empresas.

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Os crimes são investigados em sigilo pelo Ministério Público Estadual (MPE). A instituição tem ainda um inquérito civil aberto para apurar improbidade de membros da Prefeitura no caso. Entretanto, conforme o jornal O Estado de S. Paulo noticiou na semana passada, essa apuração foi paralisada depois da morte do perueiro Sergio da Conceição Nobre Oliveira, ocorrida em fevereiro, na zona leste, e do espancamento de outra testemunha, agora protegida.

As acusações ocorrem às vésperas de a Prefeitura lançar uma licitação estimada em R$ 120 bilhões, em 20 anos, para conceder o transporte público a novos empresários. O edital deve ser publicado ainda neste mês.

Segundo informações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), uma testemunha protegida disse que a empresa Allianz, antiga Cooperativa Paulistana, a mesma onde trabalhava o perueiro Oliveira, foi formada para fazer um contrato emergencial com a Prefeitura e “obter atestado de capacidade técnica e participar da licitação a ser realizada futuramente pela municipalidade para contratar prestadores de serviço de transporte”.

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Perueiros das zonas sul, leste e oeste, que pediram para não serem identificados, contam que a mudança de natureza das associações – de cooperativa para empresa – foi tomada à revelia dos sócios. A situação não teria ocorrido apenas na Allianz.

Achaques

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“Todo mundo questionou essa mudança. Ninguém concordou. Sabe o que aconteceu? Eles (diretores) perguntaram se a gente queria discutir isso e ligaram para a cadeia, no viva voz”, disse um perueiro ouvido pela reportagem. “Quem vai questionar esses caras?”, afirmou, referindo-se supostamente à facção PCC.

Na prática, a mudança fez com que cooperados virassem empregados dos diretores, que os ameaçavam diante de contestações. “A SPTrans paga R$ 2,10 por passageiro transportado. O pagamento é feito para a cooperativa, que fica com uma parte, e repassa o resto. Mas, agora, estão ficando com quase tudo. Meu repasse foi para R$ 1,08. Mal dá para pagar o motorista e abastecer o carro”, contou outro perueiro.

Antes da mudança, o repasse ficava em cerca de R$ 1,70, diz ele.

Além de ficar com parte do dinheiro, os empresários teriam passado a pressionar perueiros a entregar seus veículos. “Pago uma prestação de R$ 3.600 do meu carro à cooperativa, que fez a compra. Eles começaram a cobrar R$ 4 mil, até mais. Eu disse que assim não dava. Então falaram que, se eu não estava aguentando, devia vender meu carro para eles”, contou outro perueiro.

A investigação paralisada do MPE chegou a ouvir cinco depoimentos semelhantes antes de o medo afastar novas testemunhas. Elas contaram casos parecidos. A promotora pública Karyna Mori, que ouviu essas pessoas, acompanha agora a publicação do edital que vai escolher as novas empresas. A investigação criminal, do Gaeco, segue em sigilo.

Polêmica

A reportagem procurou o advogado Anderson Barbosa da Silva, de 44 anos, presidente da Allianz, para comentar as informações presentes no inquérito do Ministério Público Estadual (MPE), mas ele não retornou as ligações.

Silva dirige a empresa citada no depoimento feito ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre o caso. É também a mesma empresa onde trabalhava o perueiro Sérgio da Conceição Nobre de Oliveira, morto em fevereiro supostamente por se queixar das mudanças no sistema de transporte.

À Polícia Civil, segundo depoimento a que reportagem teve acesso, ocorrido em 10 de abril, o advogado disse que a antiga cooperativa “estava revendo contratos das prestadoras de serviços e afins, visando regularizar todas as situações em desacordo com a São Paulo Transporte (SPTrans). Por causa disso, alguns contratos de parceria foram cancelados, outros alterados”, disse. O advogado disse que conhecia a vítima só de vista, mas afirmou que ela era “polêmica”.

Na quinta-feira, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirmou que a contratação da empresa no lugar das cooperativas que já operavam na cidade ocorreu a pedido das próprias empresas, que queriam se modernizar. A solicitação teria ido ao encontro de reivindicações que já haviam sido feitas pelo Ministério Público e de recomendação feita pela empresa de auditoria Ernst & Young, que analisou as contas do sistema de transporte.