A adesão do PSB, PDT, PPS e PTB à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República representa, teoricamente, um golpe fatal na candidatura de José Serra, da aliança PSDB-PMDB. A suposição é de que os candidatos que concorreram por esses partidos irão transferir para Lula as votações que tiveram no primeiro turno e que se caracterizaram como um voto de oposição ao governo. Se essa fosse a lógica do processo decisório do eleitor, a disputa estaria mesmo decidida. Mas não é isso o que ocorre em eleições realizadas sob o impacto de fatores de toda ordem. Não se pode saber com antecedência como se comportarão os eleitores de Ciro Gomes e Garotinho, que os escolheram justamente porque não queriam votar em Lula.
Além disso, o agravamento da situação econômica do País em virtude das incertezas sobre o modelo econômico e a capacidade de implantá-lo de um eventual governo Lula pode contribuir para uma revisão de posições do eleitorado.
Dos partidos que aderiram a Lula nas últimas horas, Serra tinha interesse numa composição com o PTB, o que deixaria sua aliança do tamanho das alianças que elegeram Fernando Henrique duas vezes ao Planalto. Serra parte do núcleo PSDB-PMDB, agregou o PFL e o PPB – a dissidência do PMDB em favor de Lula preocupa menos o tucano porque reúne um conjunto de derrotados no primeiro turno que já estavam contra ele no primeiro turno: Orestes Quércia (SP), Newton Cardoso (MG), Paes de Andrade (CE) e Maguito Vilella e Iris Rezende (GO), entre outros – e trabalhava a hipótese do PTB, sabendo que o interesse desse partido é uma futura fusão com o PDT de Leonel Brizola, outro derrotado no primeiro turno.
As estruturas partidárias e a capacidade de ação política dos stafs dos candidatos serão importantíssimas, é claro, na batalha eleitoral do dia 27. Mas o que decidirá mesmo a eleição será a performance dos candidatos, o que explica o interesse de Serra e o desinteresse de Lula – nos debates livres na televisão. O PT reconhece que Lula é frágil nesse tipo de confronto, por faltar-lhe conhecimento econômico e administrativo mais profundo e que Serra poderá vencê-lo com facilidade, seja por seu treino como debatedor, seja por seus conhecimentos teóricos e práticos em matéria econômica e administrativa.
As decisões do PSB, PTB, PPS e PDT de se associaram ao PT, ao PL ao PC do B e ao PMN formam uma estrutura inédita de apoio ao petista, ainda que configure aliança de esquerda contaminada por elementos fisiológicos e de direita. A estrutura partidária de apoio a Serra associa três grandes partidos a um partido médio, o PPB, representativo do centro político e da direita, que passou pelo primeiro turno sem candidato à presidência e por isso mesmo deixou vazio esse mercado eleitoral. Serra, que tem perfil de centro-esquerda, terá que se conformar com a situação e fazer de tudo para atrair esse eleitorado conservador, se quiser equilibrar a disputa com Lula.