Juliana de Faria é uma das fundadoras do coletivo feminista Think Olga, que ficou conhecido pelas campanhas contra o assédio sexual “Chega de fiu fiu” e “Meu primeiro assédio”. Em entrevista ao Estado, ela defende que crimes extremos como o estupro coletivo de uma menina de 16 anos, ocorrido no Rio, começam com pequenos atos e comportamentos que legitimam a violência contra a mulher – a chamada “cultura do estupro”.
Para Juliana, as campanhas são fundamentais para combater essa “cultura”, por mostrar que não há machismo inofensivo.
Rotular a menina que sofreu estupro no Rio como “drogada”, como foi visto nas redes sociais, é mais uma forma de violência?
Certamente. A culpabilização da vítima é um aspecto central da “cultura do estupro”. Esses apelos moralistas são uma forma de legitimar a violência. Sabemos que não importa quem é a vítima, ou o que ela faz: se ela foi estuprada, isso é um crime, e ponto final. Mas sempre há uma tendência a culpá-la.
Por que isso acontece?
As mulheres são vistas como seres domésticos e é muito recente sua conquista de espaço no ambiente de trabalho. Nos lugares onde a “cultura do estupro” é forte, a mulher correta é a que está em casa. Quando quebra esse estereótipo, ela está errada.
Como se manifesta a “cultura do estupro” no cotidiano das pessoas?
Em tudo o que rebaixa a mulher e a torna um objeto, tirando dela sua complexidade. É um processo de desumanização que se manifesta no assédio sexual nas ruas e no trabalho, nas piadas e nas ideias feitas sobre as funções femininas. Nessa cultura, a mulher é um objeto à disposição dos desejos sexuais do homem.
Qual a importância das campanhas para coibir essa “cultura do estupro”?
Elas trazem ao debate vários assuntos que não eram tratados com a devida importância. Antes da nossa campanha, há três anos, pouco se falava em assédio sexual. O tema fazia parte do cotidiano, era jogado para debaixo do tapete como uma questão privada que nem deveria ser comentada. Hoje isso já mudou. Há mais clareza de que há ações e comportamentos que nos machucam e que contribuem com a legitimação e normalização da “cultura do estupro”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.