Em seu primeiro dia como novo secretário estadual da Educação, o ex-ministro Paulo Renato Souza criticou ontem as mudanças no vestibular propostas pelo governo federal. “O Enem é uma conquista. Acho que ele vai acabar. Vão manter a grife, mas vão mudar o conteúdo”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. O Ministério da Educação (MEC) decidiu transformar o Exame Nacional do Ensino Médio, criado por Paulo Renato em 1998, em uma prova que selecionará alunos para as universidades federais.
“O ministro, com boa intenção, está errando”, completou, referindo-se a Fernando Haddad. Segundo Paulo Renato, o Enem foi pensado para orientar uma reforma no antigo colegial. “Podemos perder esse instrumento importante, é uma pena.” Apesar de preferir que tudo continue como está, Paulo Renato gosta do modelo americano de seleção, no qual o ministério se inspirou. E provoca: “Se eu copiasse os Estados Unidos, seria linchado na rua. Mas eles podem.”
“Respeito a opinião do secretário, mas ela é minoritária”, disse o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes. Para ele, o Enem nunca funcionou como orientação para o ensino médio porque o vestibular sempre teve mais força. O exame não era adotado como forma de seleção porque as universidades consideravam que ele cobrava pouco conteúdo. “As mudanças são o caminho natural. Conversamos com vários setores e todos concordam que o Enem precisa mudar.”
No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Enem correu o risco de acabar. Alguns petistas achavam que ele não cumpria seus objetivos. Centenas de instituições, como a Fuvest, já usavam sua nota como parte de seus vestibulares. Mais tarde, porém, o governo decidiu aproveitá-la na seleção do ProUni, que dá bolsas em universidades privadas a alunos pobres, e a adesão de estudantes explodiu. Cerca de 4 milhões participaram da última prova. O MEC agora aguarda o posicionamento das 55 universidades federais sobre a proposta de usar o Enem para seleção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.