Paulo Coelho toma posse na Academia Brasileira de Letras

O escritor Paulo Coelho tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL) às 21 horas de hoje (28), ocupando a cadeira 21, fundada pelo abolicionista José do Patrocínio, que escolheu como patrono o também abolicionista Joaquim Serra (1830-1888).

  O escritor iniciou seu discurso na Casa de Machado de Assis com uma citação de São Paulo em latim: sic transit gloria mundi. ?Dessa maneira, São Paulo define a condição humana em uma de suas epístolas: a glória do mundo é transitória?, disse, vestido com o fardão reservado aos imortais.

  O presidente Fernando Henrique Cardoso foi representado pelo ministro da Cultura, Francisco Weffort.

  Coelho foi recebido pelo acadêmico Arnaldo Niskier, que discursou depois dele. Coube aos acadêmicos Josué Montello, Tarcísio Padilha e ao ex-presidente José Sarney entregarem ao escritor a espada, o colar e o diploma da casa, respectivamente.

  Segundo a assessoria da ABL, mil pessoas foram convidadas. Vinte e seis dos 38 membros da casa (uma cadeira está vaga) estiveram presentes A única coisa diferente na posse de Coelho, em relação às de outros imortais, foi a instalação de um toldo para abrigar as pessoas que assistiram à cerimônia do lado de fora do Petit Trianon, que recebeu cadeiras e mesas.

  No discurso, o escritor lembrou o momento em que o acadêmico Arnaldo Niskier perguntou se ele gostaria de se candidatar à vaga aberta com a morte do economista Roberto Campos. Cinco anos antes, Coelho fora apresentado ao professor, a quem confidenciou seu desejo de integrar a ABL.

  ?No dia 9 de outubro de 2001, eu participava do Festival de Autores e Cineastas, em Montecarlo. Conversava despreocupadamente com o diretor americano Sidney Pollack, quando meu telefone celular tocou: era Arnaldo Niskier, comunicando a morte de Roberto Campos, e perguntando se eu aceitava concorrer à vaga.?

  Não faltaram alfinetadas aos críticos. Paulo Coelho citou o escritor José Mauro Vasconcellos, autor do livro infantil Meu Pé de Laranja Lima, que, como o novo acadêmico, não era bem visto pela crítica.

  ?Talvez alguns considerem isso anátema, mas não posso deixar passar a oportunidade. Jamais li um livro seu, mas não posso perder esse momento único para agradecê-lo por ter levado seu trabalho aos quatro cantos do mundo.?

  Disse também que entrar para a ABL era uma utopia de adolescente, desde a época em que visitou a instituição para assistir a uma palestra.

  ?O que era uma utopia de adolescente virou, no início dos anos 90, uma verdadeira heresia. Mas, como acontece com algumas heresias, essa também se transformou em realidade.?

  Paulo Coelho lembrou que Dias Gomes classificou a cadeira 21 como a ?cadeira da Liberdade? e que Roberto Campos, como ?cadeira do ecletismo?.

  ?Eu preferiria chamá-la, entretanto, de ?Cadeira da Utopia?. Utopia em seu sentido clássico, referindo-me ao momento ideal da história da civilização na qual todas as conquistas do homem seriam consolidadas entre seus semelhantes; o país imaginário do escritor inglês Thomas Morus, no qual um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz?, disse o escritor.

  Coelho quebra uma tradição iniciada em 1959: a de a vaga ser ocupada alternadamente por acadêmicos ligados a pólos opostos do espectro político. Naquele ano, o cronista Álvaro Moreyra, comunista, foi eleito. Seis anos depois, Adonias Filho, um ex-integralista que apoiava o golpe militar de 1964, o sucedia. Em 1991, foi a vez do teatrólogo Dias Gomes, demitido da Rádio Clube, em 1953, por ter visitado a União Soviética. A sucessão de Gomes gerou polêmica: foi vencida pelo economista liberal Roberto Campos, ministro durante o regime militar.

  Em protesto, a família do dramaturgo ameaçou retirar o corpo de Gomes do mausoléu da ABL.

  O maior parceiro musical, Raul Seixas, foi mencionado. Jesus Cristo, o poeta Vinícius de Moraes, a escritora Gertrud Stein, o ativista Martin Luther King e os escritores Jorge Amado, Fernando Sabino e Josué Montello também foram citados.

O discurso foi marcado por referências ao universo esotérico presente em seus livros, em histórias com mestres orientais e anjos como protagonistas.

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