Patrimônio de Valério cresce 60 vezes

Célio Azevedo / AE

Alvaro Dias: "Isso tem de ser investigado com o maior rigor possível".

Brasília -O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) disse ontem no plenário que deve existir uma conexão entre as empresas do publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o mensalão, e o ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica. Ele citou a empresa de nome Astral, prestadora de serviços, que estaria ligada à SMP&B Comunicação, de Marcos Valério Fernandes de Souza, que tem contrato com os Correios, além da Multiaction, também do publicitário.

"Isso tem de ser investigado com o maior rigor possível. Ver se os recursos de publicidade do governo têm servido ao mensalão", disse o senador. O parlamentar disse ainda que o PT construiu um modelo de poder voltado para a captação financeira para viabilizar seu projeto, que consistia na compra da base de sustentação no Congresso e no preenchimento de cargos no Executivo e em estatais. "Pelo projeto de poder, os fins justificam os meios. Utilizaram meios escusos para viabilizar esse projeto", disse.

Enquanto isso, investigações feitas sobre o patrimônio de Marcos Valério revelam um aumento mais de 60 vezes em sete anos. As investigações tiveram como base as declarações de renda do publicitário à Receita Federal.

Em 1997, Valério declarou à Receita um patrimônio de R$ 230 mil. Cinco anos depois, em 2002, ele já tinha um patrimônio declarado de R$ 3,8 milhões. Em 2004, este valor chegou a R$ 14 milhões. Da declaração de Valério constam participações em empresas, carros de luxo e 16 imóveis. O publicitário possui dez fazendas no interior da Bahia, segundo sua declaração. Nove delas ficam no município de São Desidério, onde os habitantes dizem não conhecê-lo.

Da lista das supostas fazendas que pertenceriam a Valério, apenas uma é conhecida e coincide com o nome de uma propriedade existente naquele município. Trata-se da Fazenda Barra, que, de acordo com registros do cartório de São Desidério, pertence à empresa Carvic Empreendimentos Comerciais.

Um dos sócios da Carvic, Victor Abou Nehmi Filho afirma que, nos seus cinco anos de atividade ligada à pecuária em São Desidério, nunca ouviu falar em Marcos Valério, na DNA, na SMP&B e muito menos nas supostas fazendas.

"Estamos entre os maiores criadores de gado do município e conhecemos bem aquela região. Nunca ouvi falar da existência dessas fazendas, o que seria natural, já que alguns dos seus nomes coincidem com o da nossa", disse Victor Abou. Ele disse ainda que é comum na região surgirem fazendas conhecidas como de "segundo andar", ou seja, que só existem no papel: "Não posso afirmar que é o caso, mas é comum empresas se valerem desse tipo de negócio escuso para engordar seu patrimônio, geralmente com o objetivo de obter financiamento ou prestar algum serviço público".

Segundo Victor Abou, essas fazendas que só existem no papel são "compradas" por valores irrisórios, se comparados aos de mercado, entre R$10 mil e R$ 20 mil, mas apresentadas com valor real. 

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