Um vídeo em que a pastora evangélica Zélia Ribeiro, de Botucatu, interior de São Paulo, aparece destruindo a marretadas uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil para os católicos, está causando polêmica. Enquanto a pastora golpeia a imagem, uma voz masculina faz referência ao “inimigo” e incentiva a destruição “em nome de Jesus”. As cenas foram parar em redes sociais e causaram reações de outras religiões. O Conselho dos Pastores de Botucatu disse que o ato foi isolado e pediu “perdão” aos católicos.
As imagens teriam sido feitas nesta terça-feira, 11, durante culto da igreja evangélica Aliança com Deus/Ministério Bariri, localizada na zona leste da cidade. O vídeo mostra a pastora de joelhos, destruindo a imagem de Aparecida e de outros santos. Ela pergunta se estão gravando e pede para os obreiros orarem enquanto atinge as imagens. Uma pessoa que não aparece no vídeo vai dizendo: “Quebra tudo lá, oh glória. Eu não aceito outros deuses. Essa obra que foi feita pelas mãos do inimigo, seja agora tudo quebrado. Que seu nome seja glorificado, aleluia. Está quebrando em nome de Jesus.”
O vídeo havia sido postado por adeptos da igreja dirigida pela pastora, mas foi retirado em razão da repercussão. Outras cópias, no entanto, já circulavam pelas redes sociais. “Não sou católico, mas isso é fanatismo, ódio, uma atitude que não constrói”, postou o internauta Rafael Villar. “Que a Virgem Aparecida tenha piedade dessa infeliz mulher”, escreveu Cleusa Morgado.
O padre Emerson Anizi, ecônomo da catedral da Arquidiocese de Botucatu, disse ter ficado surpreso com a manifestação de agressividade contra a religião católica. “Nós sempre tivemos um bom diálogo com o conselho de pastores de denominações evangélicas. Acredito que essa foi uma atitude isolada de um fundamentalismo grosseiro.” Ele disse que a igreja católica nada fará a respeito e pediu a católicos e evangélicos que “não rebatam o mal com o mal”.
Procurada, a pastora não foi localizada e outros obreiros da Aliança com Deus não quiseram se manifestar. O secretário do Conselho Municipal de Pastores de Botucatu, missionário Paulo Cruz, falando em nome das igrejas evangélicas, disse que o ato foi um caso isolado e não representa os evangélicos da cidade. “Não é uma prática que nós adotamos. Não temos intolerância religiosa e mantemos um elo muito grande com todas as comunidades cristãs, inclusive a católica. Foi uma prática isolada.”
Segundo ele, quando católicos se convertem à religião evangélica, que não cultua santos, ele se desfaz das imagens, doando-as ou repassando para entidades. “O vídeo acabou mostrando cenas de ódio com que não concordamos. Peço perdão aos católicos por esse equívoco. As diferenças que podem haver entre nós não podem nos afastar da fé em Cristo.” Ele disse que tentou contato com a pastora Zélia nesta quarta-feira, mas não conseguiu localizá-la. “A pastora é uma pessoa simples, vamos chamar e conversar com ela”, prometeu.
O Código Penal brasileiro tipifica como crime “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”, prevendo pena de detenção de um mês a um ano, ou multa. Até o fim da tarde, não havia queixa na Polícia Civil de Botucatu sobre o caso da pastora.