Rio – Quando o pastor Marcos Pereira da Silva entrou na Casa de Custódia de Benfica, às 16h30 de segunda-feira viu detentos amarrados de cabeça para baixo nas grades e agentes presos a botijões de gás. “Em nome de Deus”, repreendeu os líderes do motim. “Eles caíram possessos. Os demônios foram expulsos e eles me entregaram as armas. Fiz uma oração e cantamos hinos.” O pastor se recusou a olhar os corpos. “Gente da minha equipe viu e disse que estavam mutilados. Uma barbárie.”
O pastor Marcos – considerado essencial pelo secretário de Assistência Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, para evitar tragédia maior – é figura controversa no meio carcerário. “A rendição já estava negociada. Fez aquela aparição cinematográfica, chegando de helicóptero, e teve participação inócua. Ele até estava proibido de ingressar nos presídios pelo secretário”, comentou o coordenador da Defensoria Pública no sistema carcerário, Eduardo Gomes.
O pastor não comenta a proibição. Disse que esteve na casa de custódia a convite do secretário da Segurança, Anthony Garotinho, que enviou o helicóptero.
Massacre
A Secretaria de Administração Penitenciária do RJ confirmou que 30 presos foram assassinados, dois deles esquartejados, e outros 15 ficaram feridos durante a rebelião. Foi a maior matança já vista no sistema carcerário do Rio. A rebelião durou 62 horas – começou às 6h do sábado e terminou por volta das 20h30 de segunda-feira. Dos 14 internos que fugiram no sábado, dez ainda estão foragidos. No domingo, o agente penitenciário Marco Antônio Borgatte, um dos reféns, foi executado pelos presos.
Segundo o Instituto Médico-Legal, foram encaminhados, além dos 30 corpos, duas cabeças e dois braços de internos.