Foto: Célio Azevedo/Agência Senado |
Heloísa Helena é a única mulher entre os 14 líderes do Senado. continua após a publicidade |
As brasileiras ampliam o espaço no mercado de trabalho, mas, na política, avançam em compasso de adágio: lento, quase moderado. Há dez anos, os números de deputadas e senadoras mantêm-se praticamente estagnados no Congresso Nacional, revela levantamento do Congresso em Foco. No Senado, custou uma década para o número de senadoras dobrar de cinco para dez. Na Câmara, no mesmo período, o aumento foi de menos de 1%. Cada uma das Casas possui apenas uma líder partidária. E apenas uma senadora compõe a Mesa Diretora do Congresso. Como suplente.
A atual legislatura (2003-2007) conta com 46 mulheres entre 513 deputados. Elas representam 8,9% da Casa. No Senado, dez mulheres formam a bancada em meio a 81 senadores. Correspondem a 12,3% da Casa. Em 1998, eram 39 deputadas e seis senadoras representação menor do que a registrada na legislatura anterior, quando havia 42 deputadas e cinco senadoras.
Além do número reduzido e do compasso arrastado de crescimento da bancada feminina, as mulheres estão longe das funções de decisão no legislativo. Juntas, as duas Casas somam 30 cargos de liderança. Entre os 16 líderes na Câmara, figura apenas uma mulher: a deputada Luciana Genro (RS), do Psol. No Senado, o quadro é o mesmo. Entre os 14 líderes, a única mulher é a senadora Heloísa Helena (AL), também do Psol.
Mulheres de fora
Para muitas parlamentares, a ausência de mulheres nos cargos de liderança e nas mesas diretoras se deve à discriminação praticada em ambas as Casas. "O problema é que esta é uma Casa de machos", define a deputada Juíza Denise Frossard (RJ), única mulher no PPS. "As bancadas não aceitam mulheres. Imagina o meu constrangimento por ser a única do partido. Eles nos ignoram e não nos chamam para os debates dos temas importantes", reclama.
Única mulher a compor a Mesa Diretora do Senado (ainda assim, na condição de suplente), a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) reclama da dificuldade das parlamentares em ocupar espaço no Congresso. "Sou a única mulher na Mesa Diretora e você não imagina como foi difícil ganhar essa suplência. Enfrentei resistências de colegas até mesmo de partido", confessa. A Mesa Diretora conduz os trabalhos legislativos e os serviços administrativos, como pagamentos, distribuição de verbas e encaminhamento de processos para a Corregedoria.
"Na próxima eleição, teremos mulheres na Mesa Diretora da Câmara. A bancada feminina já bateu o martelo quanto a isso", avisa a deputada Iara Bernardi (SP), coordenadora da bancada na Câmara e uma das quatro mulheres a responder pela vice-liderança do PT.
"Machismo deslavado"
"A política ainda é muito masculina. Não gosto de generalizar, mas os homens costumam ter mais sucesso na política", observa Luciana Genro. A deputada constata que as mulheres também ficam afastadas das comissões relacionadas aos temas mais relevantes no debate nacional, como as discussões sobre orçamento, Constituição e Justiça. "Somos escaladas para comissões de temas considerados secundários, como educação, trabalho, família e direitos humanos", exemplifica. "Não que não sejam importantes, mas não têm o mesmo destaque que economia e orçamento."