Parques têm excesso de metais pesados

A poluição dos carros ultrapassou a escassa barreira verde da cidade e contaminou os redutos paulistanos considerados imunes. Um estudo divulgado neste mês detectou que solos de parques, em especial os que ficam no centro, estão contaminados por metais pesados, como chumbo, arsênio, cobre e bário, em concentrações que extrapolam, em alguns casos, até duas vezes os padrões seguros estabelecidos pelo governo paulista para não prejudicar a saúde.

A longo prazo, a contaminação por metais pode resultar em vômitos, diarreias, tonturas e, em casos extremos, até câncer. A análise foi feita com amostras colhidas de playgrounds e pistas de corrida de 14 parques de São Paulo. Todos apresentaram pelo menos um dado de metal em desacordo.

“Os piores índices estão nos parques mais próximos ao centro, onde há tráfego intenso de veículos, os grandes responsáveis pela concentração de metais”, afirma a autora do estudo, Ana Maria Graciano Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares, que fez a análise com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Um dos piores cenários está no Parque Buenos Aires, em Higienópolis, zona oeste. A concentração de chumbo foi de 400 mg/kg, sendo que o parâmetro da Cetesb é de 180 mg/kg (2,2 vezes mais). Parques do Ibirapuera, Aclimação, da Luz e Trianon também estão em alerta com chumbo, arsênico e cromo.

As crianças e os cachorros são mais suscetíveis ao problema, explica o coordenador de pós-graduação do Departamento de Microbiologia da USP, Mario Julio Ávila-Campos, por causa do contato mais próximo ao solo. “Mas o risco para quem vai aos parques, ainda que diariamente, é difícil de ser mensurado”, diz. “Quando o organismo fica saturado de metais, responde com tontura, desequilíbrio, diarreias, sintomas que as pessoas dificilmente vão relacionar à contaminação por chumbo, arsênio ou outro (metal).”

Especialistas dizem que não há motivo para pânico, mas é preciso alerta das autoridades públicas. “No Brasil ainda é muito recente essa preocupação com os metais. Para contato esporádico ainda faltam pesquisas que comprovem os perigos”, opina Luiz Roberto Guilherme, pesquisador do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras.

Se ainda existem dúvidas sobre o alcance da contaminação, já há certeza de que os carros são os “vilões” do acúmulo dessas substâncias, até mesmo nos solos dos parques. “A dispersão desses materiais é por meio do escapamento, tanto que, quanto mais perto das vias públicas, maiores são os índices”, diz a engenheira florestal do Laboratório de Poluição da USP Ana Paula Martins, que encontrou os materiais em excesso até nas cascas de árvores de cinco parques da cidade.

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