Organizações de sem-terra do Paraguai afirmaram hoje que continuarão a ocupar fazendas de brasileiros que cultivam soja em território paraguaio. Ao mesmo tempo, o governo do presidente Fernando Lugo insiste que não tem dinheiro para fazer a reforma agrária no país imediatamente. “O governo é fraco para desalojar os latifundiários estrangeiros. Portanto, por nossa conta e responsabilidade até poderíamos expulsar os colonos brasileiros do território nacional”, disse o secretário da associação Produtores San Pedro Norte, Elvio Benítez, em entrevista coletiva.
O dirigente advertiu que prosseguirão as ocupações de fazendas de soja. Ele afirmou que os campesinos não são “guerrilheiros nem terroristas”. “Não precisamos da guerrilha para lutar, para isso temos o povo e a fortaleza moral. Para reivindicar a soberania paraguaia sobre o território somente precisamos de mobilizações populares pacíficas, bloquear rodovias nacionais e convocar grandes greves”, disse Benítez.
O clima tenso, com posições aparentemente irreconciliáveis, fez com que o presidente convocasse hoje representantes dos camponeses e agropecuaristas para uma reunião, informou o ministro da Agricultura e Pecuária, Cándido Vera. “O governo não tem como financiar a reforma agrária. Não há dinheiro no Ministério da Agricultura nem no Instituto do Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert)”, disse Vera. Ele afirmou que a reunião servirá para “pacificar os ânimos”.
O ministro da Economia, Dionisio Borda, confirmou o problema. Segundo ele, é preciso uma verba extra de US$ 150 milhões para a assistência aos camponeses pobres e para a luta contra a pobreza extrema. “Avaliamos a possibilidade de estabelecer um imposto temporário para a exportação de soja”, afirmou Borda. Segundo ele, existem no orçamento do governo apenas US$ 7 milhões para essas finalidades.
Em outra entrevista coletiva, o presidente da Associação Rural do Paraguai, Juan Néstor Núñez, fez mais declarações duras. “Temos 50 propriedades agropecuárias ameaçadas por invasões de campesinos”, afirmou. “Como o governo de Lugo não tem firmeza para frear as entradas ilegais e garantir a segurança de nossa produção, teremos que pegar em armas para nos defendermos.”
Bônus do Tesouro
Borda anunciou que, como medida de urgência para fazer caixa, o governo do Paraguai emitirá bônus do Tesouro, nos próximos meses, para levantar US$ 100 milhões. Ele não deu mais informações sobre os vencimentos e as taxas de juros que os títulos pagarão.
Após a morte do camponês Bienvenido Mereles, em um choque com policiais paraguaios durante a expulsão de invasores de uma lavoura de soja, propriedade do brasileiro Oscar Faver, o governo informou ontem que nenhum estrangeiro poderá comprar terras para a agricultura no país. Com uma colheita de 6 milhões de toneladas em 2007, o Paraguai é o terceiro maior produtor de soja da América do Sul, atrás de Brasil e Argentina, e o sexto do mundo.