Os ?pais? da urna eletrônica estão muito orgulhosos da repercussão internacional que alcançou a sua ?criança?. Para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, que capitaneou o processo de implantação do sistema, quando presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil deveria fornecer a tecnologia gratuitamente para outros países. ?Seria algo importante para tornar mais legítima as democracias, principalmente na América Latina?, disse hoje.
De acordo com o secretário de informática do TSE, Paulo César Camarão, ?existem várias negociações ocorrendo? sobre a aplicação da tecnologia brasileira – e pertencente ao tribunal em outros países. Para ele, o voto eletrônico é a ?tendência do mundo?. ?E o Brasil saiu na frente com um processo fácil e barato.?
Velloso afirma que a idéia surgiu em 1994, quando ele ocupava a vice-presidência do TSE. Na época, o presidente era Sepúlveda Pertence que, de acordo com Velloso, já era ?entusiasmado? com a possibilidade de votação eletrônica.
Segundo Velloso, uma das razões para a criação do novo equipamento foram as fraudes. ?A fraude era a via de regra?, disse o ministro. Quando assumiu a presidência do TSE no final de 1994, ele convidou Camarão, que é analista de sistemas, para coordenar o projeto.
Para definir como seria o sistema de voto eletrônico, Camarão disse que primeiro foi preciso ?ver o que existia no mundo?. ?Mas o que existia não se adaptava à nossa realidade? declarou. ?Então tivemos de fazer um projeto brasileiro, tupiniquim, como foi chamado na época?, afirmou.
Foi então formada uma ?comissão de notáveis? para estabelecer as ?premissas? do voto eletrônico. O sistema tinha de contemplar várias particularidades do País. ?A urna americana, por exemplo, pesava 90 quilos e parecia uma geladeira não haveria como transportá-la em uma canoa. Além disso ela custava cerca de US$ 7 mil, enquanto a nossa custa US$ 400?, comparou.
O sistema em si, segundo ele, foi desenvolvido pelo TSE com auxílio dos ministérios militares e de órgãos estatais ligados à área tecnológica. Mas as máquinas são fabricadas por empresas privadas.
Segundo Velloso, a primeira grande dificuldade foi ?convencer as pessoas de que era possível?. ?Havia muito pessimismo sobre a possibilidade de se votar no computador?, afirmou.
A urna eletrônica foi testada pela primeira vez nas eleições municipais de 1996 em cidades com mais de 200 mil eleitores. Em 1998 os municípios com mais de 40 mil eleitores foram contemplados. Em 2000 a eleição já foi totalmente informatizada. ?Mas este ano foi o aperfeiçoamento final, porque foram as eleições mais complexas?, disse Velloso.
?Me senti muito realizado quando no domingo, já às 22 horas, vi o Lula falar como eleito, senti um alívio muito grande?, disse o ministro. ?Antes a apuração demorava 10 dias, parava a economia em meio a acusações e impugnações.? Ele não chegou a ver o sistema funcionar na prática quando estava no TSE pois deixou o cargo em maio de 1996, após a entrega dos primeiros equipamentos, e a eleição foi comandada pelo atual presidente do STF, Marco Aurélio Mello. Velloso disse que o colega ?deu execução com muita competência?.