São Paulo
(AE) – O Estado perdeu o controle sobre a violência do narcotráfico e os traficantes do Rio de Janeiro promoveram uma “ação de Estado” ao “prenderem, julgarem e executarem” o jornalista Tim Lopes, da Rede Globo de Televisão, disse ontem em São Paulo o ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior. “O tráfico de drogas e a delinqüência ocuparam (nos grandes centros brasileiros) o espaço deixado pelo Estado e se instituíram como um poder paralelo”, afirmou o ministro. Acompanhado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, Reale Júnior visita a região do Jardim Ângela, zona sul , uma das mais violentas da capital paulista.Os ministros visitam na região ONGs e instituições que desenvolvem projetos sociais de prevenção à violência. “Se o Estado não se compenetrar e ocupar estes espaços, irmanado com a sociedade, será inútil tentar responder depois a cada ato de violência da delinqüência”, disse Reale Júnior. Para Reale Júnior, o assassinato do jornalista se inscreve “naqueles atos que atingem o limite da nossa dignidade”. Ele afirmou que as forças-tarefa e de inteligência, designadas para prender os criminosos, estão em ação. “Essa não é uma tarefa que se resolva da noite para o dia”, disse ele. “Mas a verdadeira ação deve-se voltar para extinguir este Estado paralelo criado pela criminalidade.”
O corpo
Mais de 50 policiais das delegacias de Repressão a Entorpecentes, Homicídios, Bonsucesso, Penha, Brás de Pina e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) estão, desde o início da manhã de ontem, numa operação na favela da Grota, no Complexo do Alemão. Os policiais vão tentar encontrar o corpo do jornalista Tim Lopes, que estaria enterrado num cemitério clandestino naquele morro do Rio de Janeiro. A informação foi obtida pela polícia durante interrogatório de dois bandidos da quadrilha do traficante Elias Maluco, presos ontem no Complexo do Alemão.
Segundo os dois bandidos, o repórter Tim Lopes, de 51 anos, foi torturado e executado no final da noite de domingo passado na favela da Grota, no complexo do Alemão. A polícia investiga a informação de que o corpo do jornalista esteja enterrado no alto daquele morro, ao lado do local chamado microondas, onde traficantes matam e queimam seus rivais.
Os bandidos Fernando Sátiro da Silva, de 25 anos, o Frei, e Reinaldo Amaral de Jesus, de 23 anos, o Cabê, foram presos em casa no domingo, enquanto dormiam, no Morro da Caixa D’água, na Penha, às 7h, durante uma operação que durou 1h30m e mobilizou 50 policiais civis. Eles negam a participação na execução do repórter. No entanto, contam em detalhes o momento em que o jornalista foi levado pelos traficantes e seu assassinato. Segundo eles, Tim foi levado para o alto da favela da Grota com as mãos amarradas e os pés sangrando por tiros. Sob comandado de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foi improvisado um julgamento sumário do jornalista, que foi espancado, morto a golpes de espada tipo ninja e teve o corpo queimado.
