Marcos Kitano Matsunaga foi degolado quando ainda estava vivo ou não? O embate sobre a morte e esquartejamento do empresário, em maio de 2012, marcou o terceiro dia do júri da mulher dele, Elize Matsunaga, no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital, nesta quarta-feira, 30. Para o médico legista Jorge Pereira de Oliveira, autor do laudo necroscópico incluído no inquérito policial, não há dúvidas: “Ele morreu por asfixia respiratória, provocada pela inundação das vias aéreas por sangue. Para isso, é preciso movimento ativo. A vítima tem de estar respirando”.

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O argumento de que Marcos teve o pescoço cortado antes de morrer é considerado fundamental para o Ministério Público Estadual (MPE) provar que o assassinato ocorreu por meio cruel e, dessa forma, a ré ter a pena agravada caso seja condenada. Para tentar afastar o agravante, os advogados de defesa de Elize se valem de outro laudo, feito por exame microscópico após exumação do cadáver do empresário, segundo o qual não foram encontrados tecidos vivos no corpo.

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Marcado por momentos de tensão e algumas risadas da plateia, o depoimento de Oliveira foi o mais polêmico do júri até o momento. Em algumas ocasiões, a testemunha chegou a afirmar que não responderia à pergunta da defesa, uma vez que não considerava importante, e foi advertida pelo juiz Adilson Paukoski, que preside o julgamento.

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Uma das questões era se o legista ocupou algum cargo administrativo no Centro de Perícias na época do crime. Ele era o diretor. Em outra, a diferença entre decapitação e esgorjamento. Questionado se seria possível separar o tronco de uma pessoa em duas partes sem cortar nenhuma “víscera oca”, Oliveira voltou a se negar a responder. “Você quer derrubar o meu laudo”, disse à advogada Roselle Soglio.

O exame necroscópico de Marcos foi feito no Instituo Médico Legal (IML) de Cotia, cidade onde seis das sete partes da vítima foram encontradas. O braço direito do empresário nunca foi achado. “Fiz o exame à medida que as peças iam chegando”, afirmou Oliveira. A primeira, o tronco. A última, cabeça.

De acordo com o legista, foi encontrado sangue em vias por onde só deveria passar oxigênio, o que teria causado o sufocamento da vítima. “O sangue não percorreu a boca. Foi proveniente de corte na região cervical (o pescoço)”, disse Oliveira. Segundo afirma, também foram encontrados coágulos em cortes do pescoço, além da presença de tecidos vivos na região e nos braços. “Isso só aconteceria se ele estivesse vivo.”

Apesar de Marcos ter sido baleado na cabeça, isso não o matou imediatamente, afirma Oliveira. “O traumatismo crânio-encefálico leva o organismo, por uma questão de defesa, a um processo de inconsciência”, disse o legista, que também afirmou ser possível que o empresário sentiu a dor ao ser esquartejado. “Há vários níveis de sensibilidade, esse moço sentiu alguma coisa. Para dor, não é necessário memória consciente. Por estar inconsciente, ele pode não ter demonstrado reflexos. Se teve resposta física à dor, eu não sei”.

O médico legista disse, ainda, que quem cortou a cabeça de Marcos não foi a mesma pessoa que separou os joelhos da vítima. Também afirmou que os secções começaram pelas partes superiores, o que contraria a versão apresentava por Elize na sua confissão.

Em suas perguntas, os advogados de defesa se referiam ao exame como “laudo inicial”. Como estratégia, apontaram supostas falhas no procedimento, como ausência de radiografia e o fato de os tecidos vivos não terem sido submetidos a exame laboratorial.

O médico legista foi a nona testemunha a ser ouvida no processo. Antes dele, prestaram depoimento Cecília Yone Nishioka, prima de Marcos, e o investigador do DHPP Fábio Luis Ribeiro.