Para jornais dos EUA, Lula deve evitar políticas alternativas

Dois dos mais influentes jornais dos Estados Unidos aconselharam hoje (30) o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a persistir no curso da atual política econômica e evitar caminhos alternativos, que levariam à “tragédia” e ao “desastre”. Mas o dirigente de uma empresa que opera no mercado de bônus afirmou, numa conferência realizada pelo Council of Foreign Relations sobre os desafios políticos e econômicos que Lula enfrenta, que o endividamento brasileiro já é insustentável e que o próximo governo terá de renegociar a dívida interna com os bancos brasileiros, que são os principais credores, ou impor controles de capitais.

“Executar o acordo com o Fundo Monetário Internacional levará o Brasil ao mesmo resultado da Argentina”, afirmou Walter Molano, diretor gerente sênior da BCP Securities.

Molano afirmou que, para recolocar sua dívida num nível viável e evitar uma renegociação, o País precisa crescer a 4%, ter juros reais não superiores a 10% ao ano e uma taxa de câmbio de R$ 2,60 por dólar. “O crescimento este ano será zero, a taxa de juros está 15%, o real a 3,85 por dólar e o ambiente econômico internacional não é favorável”, avaliou Molano. “Nesse cenário, Lula terá de chamar os bancos brasileiros e chegar a um acordo com eles sobre a dívida interna ou impor controle de capitais.”

Perguntado sobre a reação que uma ou outra solução provocaria no mercado internacional, ele disse que um aumento do superávit primário do setor público de 3,75%, previsto no acordo com o FMI, para 4,5% a 5% já citados por economistas como necessário, ?terá um efeito recessivo e tornará a equação do endividamento ainda mais complicada?.

Minoria

A visão de Molana é certamente minoritária, muito embora exista entre economistas de bancos de investimentos e conselheiros do próprio governo americano uma clara preocupação diante da possibilidade de o ambiente econômico internacional não permitir um relançamento da economia brasileira, mesmo que o próximo governo cumpra à risca o receituário ortodoxo.

O Washington Post afirmou que ?seria uma tragédia? se as políticas liberalizantes que o Brasil seguiu na década passada fossem desfeitas ?pelo tipo de populismo anticomércio que o Sr. da Silva e seu Partido dos Trabalhadores tradicionalmente defenderam?. O jornal, que deve publicar a primeira entrevista exclusiva com Lula, no próximo domingo, afirma que a tragédia não é inevitável e aconselha o presidente eleito a aplicar ?suas energias populistas? em três problemas que agravam a desigualdade social no Brasil: educação, política de terras e o perverso viéis do sistema de benefícios sociais do governo em favor da classe média.

O jornal The New York Times faz a mesma análise, mas aconselha o presidente Geroge W. Bush a engajar os EUA ?numa calorosa e repeitosa negociação sobre o comércio hemisférico “com o futuro presidente e ?a mostrar maior simpatia ao drama financeiro que o Brasil enfrenta”.

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