Defensor da legalização do uso de drogas como meio de acabar com o tráfico, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considerou “positiva” a ocupação das favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu pelas forças de segurança do Rio de Janeiro, no domingo, bem como as 18 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) já existentes na cidade. O modelo, avaliou FHC ao Estado, permite a retomada do controle do território pelo Estado sem a necessidade de disparo de armas. Mas não reduz o consumo de drogas nem acaba com o tráfico.
“O que está acontecendo no Rio é um passo adiante porque libera a população da pressão dos traficantes, diminui a violência, tira a arma do alcance (de criminosos)”, explicou o ex-presidente, depois da conferência “Acabando com a Guerra Mundial contra as Drogas, organizada pelo Instituto Cato em Washington.
“Mas, provavelmente, (essa iniciativa) não está acabando com o consumo de drogas nem com o próprio tráfico. Não resolve, portanto, todas as questões”, completou.
Para FHC, o modelo adotado no Rio mostrou-se benéfico por não ter instaurado uma “guerra”. A operação de domingo completou a pacificação das favelas da zona sul e fechou um cinturão de segurança para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Durou duas horas, e nenhum tiro foi disparado. “Parece que estão fazendo de maneira certa. Não estão matando gente. Não estão fazendo guerra, como no México”, resumiu o ex-presidente.
Na avaliação de FHC, além do aumento exacerbado do consumo de drogas, dois dados devem ser considerados no Brasil. Primeiro, a impossibilidade de total controle da fronteira com os países fornecedores – Colômbia, Peru e Bolívia. Segundo, a expulsão dos traficantes das metrópoles para as cidades vizinhas. Para qualquer dessas questões, FHC aponta uma única solução: a legalização do uso de drogas, com forte apoio do Estado para a recuperação de viciados. “Se o consumo não reduzir, todas as medidas inúteis para acabar com o tráfico.”